segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Distribuição de renda e a ciclagem eleitoral

    Bem-vindos a mais uma postagem do Devir Social. Hoje faremos uma breve viagem pela distribuição de renda aqui no Brasil. Este é um assunto bem técnico, mas que será visto aqui de maneira simplificada para possibilitar uma interpretação sobre a pobreza, sendo este o principal objetivo deste texto. Esta interpretação da pobreza, de certa forma, está relacionada com tudo o que o Devir Social, de alguma forma, luta: que é a maior integração das pessoas nos sistemas democráticos.

    Para iniciar, é preciso saber basicamente que o Brasil exporta, de maneira quase absoluta, produtos em estado bruto, e importa produtos aprimorados tecnologicamente. Isto significa que um produto sai daqui do Brasil para outro país, é trabalhado lá, então o Brasileiro exporta mais do produto que saí daqui do Brasil para importar aquele produto que foi lá, mas também foi transformado. Existe uma enorme consequência social nisto: a má distribuição de renda, que é histórica no Brasil.

    Esta má distribuição acontece porque é o trabalho empregado para extrair produto bruto é de baixa complexidade, sendo quase robótico, enquanto que o trabalho empregado para transformar o produto bruto em um produto tecnológico, por outro lado, é de alta complexidade e mais humanizado, sendo maior a necessidade o bom condicionamento dos humanos envolvidos na produção. A forma de condicionar bem os seres humanos é gratificá-los de modo a torná-los capazes de financiar outros seres humanos a desenvolver para eles um ambiente e conhecimentos adequados para o bom funcionamento de suas vidas.

    Por exemplo: um trabalhador pode se preocupar em limpar suas próprias roupas e fazer sua própria comida, além da sua árdua rotina de trabalho, ou pode terceirizar estes serviços, de modo a fornecer mais tempo para que ele cuide da sua família. Numa sociedade em que a qualidade de trabalho é baixa, as pessoas vivem sobre indicadores sociais ruins, como violência e corrupção, já que não existe um sistema bem definido de trabalho e recompensa, de modo a não permitir uma boa organização de estrutura familiar e de herança de comportamentos.

     Ainda, é clara a necessidade de um governo para proteger dar ao grupo que estiver na base deste sistema social as condições necessárias para que eles vivam com dignidade. Uma pessoa que trabalhe na cozinha ou na lavandeira também precisa ter tempo para dedicar-se à sua família. Contudo, se a renda não é bem distribuída e o governo não é bem fiscalizado, não há condições de construir tais estruturas, e estas pessoas vivem em uma complicada situação de quase escravidão em alguns casos, sendo elas, ou seus filhos, a principal fonte de violência e instabilidade social.

    Ora, se o Brasil, por definição, é um país cuja organização econômica implica diretamente em um trabalho de baixa complexidade, significa que os sistemas sociais montados no Brasil, se não houver um governo forte o suficiente para combater este mal de alguma forma, sempre vão implicar em indicadores sociais ruins. Para combater estes indicadores sociais ruins, a população recorre a mais governo, mas que sem fiscalização torna-se apenas uma ferramenta indireta de distribuição de renda com má eficiência. Este é um trágico destino para qualquer país, sendo um verdadeiro estado de pobreza.

    É possível interpretar isto de outra forma: uma grande massa de pessoas está acostumada a um trabalho de baixa complexidade. Isto significa que é fácil repor estas pessoas, e é barato e rápido instruí-las ao trabalho, e ambas as coisas diminuem o tempo de qualificação e o valor de mercado do trabalho delas. Com o valor de trabalho tão baixo, e com uma sociedade estruturada para ter seus bens de desejo importados, torna-se muito alto o valor da violência. Ou seja: economicamente é mais viável ser violento que trabalhar. Isto é um dos fatores que induz o estado de pobreza mencionado acima.

     Este estado de pobreza só gera mais pobreza, através da desigualdade na distribuição de renda e da violência. É possível perceber isto quando, para combater a violência, a sociedade decide impor mais violência, através da recompensa por estruturas de estabilização social, que são as polícias que reprimem as pessoas que tentam rebelar-se através da violência ao sistema estabelecido, mesmo as pacificas, como passeatas.  Portanto, temos, ao final das contas, uma sociedade cuja distribuição de riqueza é desenvolvida da seguinte forma:

    A classe detentora do capital bruto, aonde se colhe o produto que será exportado para a exportação dos bons que trazem sensação de bem-estar, status e riqueza. A classe que organiza a aparência de legitimidade deste processo de maneira obscura, comprada pela classe anterior através da corrupção e que também contrata as classes que redistribui, acalma e estabiliza a população, através de propina, violência, burocracia, cabide de emprego, além de outros métodos ilícitos, e a própria população, cercada de indicadores sociais ruins, mas que continua trabalhando para manter-se em um estado mínimo de dignidade.

     Ao observar a história é possível perceber que, em geral, a população ou está em estado de pão e circo ou está em estado de guerra. Atualmente, o pão e circo no Brasil está caminhando para se tornar insustentável. Portanto, entraremos em breve a um estado de guerra. Mas que estado de guerra é esse senão a guerra contra nossos próprios conterrâneos? Nossa guerra, no entanto, será verdadeiramente contra a corrupção. Porém, como combater a corrupção senão através da participação popular nos meios democráticos? Entendemos aqui o grande interesse do Devir Social com relação à distribuição de renda.

     Alguns, por outro lado, poderiam afirmar que a solução está em desenvolver um produto de alta complexidade no Brasil, de modo a reter mais riqueza no próprio país e também distribuída entre aqueles que estudam para produzi-la. Mas isto, com esta configuração atual, é impossível. Afinal, para tanto é preciso da coordenação daqueles que desejam o novo com o governo, que por sua vez já está corrompido pelo capital que deseja a manutenção do atual sistema econômico. Portanto, é fundamentalmente necessário mudar a característica do governo, e isto só será possível se as pessoas, através da sua participação na democracia, fazer com que o governo realmente funcione de modo legítimo. E não há outro modo de fazer isso se não aperfeiçoarmos os mecanismos de relação com o governo para que o esforço de mudança se torne viável.

    Inclusive, no próprio texto do manifesto do Devir Social, considera-se que é importante desenvolver instrumentos para que a população possa usar quando a corrupção está em alta. Afinal, como é possível conceber um modelo de sociedade moderno se, para revitalizá-la da corrupção, for necessário um estado de guerra para unir o povo em torno de um objetivo comum? Além disto, uma última consequência de uma população afastada do seu governo é a ciclagem eleitoral, algo que o Devir Social considera como a forma moderna de guerra que ocorrerá no mundo.

    A ciclagem eleitoral trata-se do quão distante as propostas daqueles que sobem ao poder de um governo está da realidade, de modo que, quanto mais distante for, maior a possibilidade de outro governo utilizar esse vácuo para beneficiar sua própria população, conseguindo a reeleição de seus candidatos. Isto decorre imediatamente do fato de que vivemos em uma sociedade globalizada, que as econômicas estão lado-a-lado e que ainda não existe um governo global para evitar este tipo de situação.

    É o principal fundamento que dá margem para a colonização moderna, e a única forma de combatê-lo é ter uma população conectada à realidade sobre como as coisas funcionam, e não ligadas somente a uma rotina de dia-a-dia artificial. E a única forma de conectá-las a realidade é fazê-las cuidar da democracia, a abstração da “terra” que antes se tanto defendia nas guerras medievais. Com isto, finalizamos este texto, um abraço a todos e até a próxima postagem.

Recomendo a leitura dos textos:
Aspectos de uma guerra moderna:
http://barnabasspenser.blogspot.com.br/2017/02/aspectos-da-guerra-moderna.html
Princípios econômicos para a organização social
http://devirsocial.blogspot.com.br/2016/08/principios-economicos-para-organizacao.html
Reflexão sobre a evolução e alguns dos seus mecanismos sociais aliados com perspectiva cristã
http://barnabasspenser.blogspot.com.br/2016/11/reflexao-sobre-evolucao-e-alguns-dos_3.html

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