quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Uma análise dos agentes comunicativos segundo a perspectiva do Devir Social

Neste texto, faremos uma análise dos agentes comunicativos segundo a perspectiva do Devir Social. Isto significa que buscaremos analisar a importância e a atuação destes num cenário em que o ser humano terceiriza sua responsabilidade e as consequências para o viver humano. Inicialmente, precisamos entender o porquê da utilização do termo “agentes”. Meio de comunicação é tudo aquilo que os seres humanos utilizam para se comunicar: o ar, a internet, a luz, as escrituras, etc. Agentes comunicativos, por sua vez, são pessoas que utilizam os meios de comunicação para comunicar aquilo que elas percebem da realidade. Contudo, como agentes, sua percepção também é alterada por suas condições, por sua atuação, por seu ponto de vista. Eles precisam sobreviver e atuar para continuarem a ser o que se propuseram a ser, e isto pode se tornar uma aberração num cenário aonde eles não encontram formas dignas de atuação.

Entendido isto, agora vejamos a atuação dos agentes de comunicação num cenário aonde haja a terceirização da responsabilidade. Nele, as pessoas não estão interessadas em cuidar do que elas devem cuidar, estão interessadas em solucionar as coisas da maneira mais fácil e isenta de responsabilidade possível. Isto diminui a importância que eles dão à informação na sua forma mais verídica possível, portanto, desestimula a aquele que quer comunicar de fazer esta investigação. Além disto, em volta do agente comunicativo existem outros agentes igualmente ou mais poderosos que ele, como agentes políticos, do setor privado ou mesmo criminosos, que tem um especial interesse na vinculação ou não vinculação de algum tipo de informação, em algum formato específico. Neste cenário, o que acontece com o agente de comunicação?

Ora, mesmo que ele tenha o genuíno desejo de comunicar aquilo que eles acreditam ser a verdade por motivos morais de funcionamento da sociedade, esta vontade não encontra meios de se sustentar socialmente, afinal, eles não conseguem nem vender e nem agradar aos poderosos agentes sociais, sendo a verdade aqui considerada um instrumento de conscientização e transformação que aqueles que estão vivos possuem. Portanto, inicia-se aqui uma corrida dos agentes sociais para saber quais deles conseguem dominar os maiores agentes comunicativos, já que estes começam a atuar tão somente pelo lucro e por sua própria sobrevivência. Portanto, os agentes comunicativos começam a atuar de maneira a chamar a atenção do público por informações imprecisas, mas sensacionalistas, de modo a vender, ou vincular determinada informação específica de um agente que pagará por isso, por um benefício maior no futuro, que não necessariamente é o beneficio da maioria da população.

Como efeito, a população, que já atua somente em casos específicos e raros começa a entrar em um estado de desinformação total. Afinal, cada agente comunicativo vincula um pouco do que realmente está acontecendo para ganhar a credibilidade necessária, para então comunicar o que realmente irá garantir seu sustento, que são as notícias maquiadas para serem escandalosas ou até mesmo mentirosas, por interesse de algum grupo social ou de própria sobrevivência deste agente comunicativo. Entra-se, portanto, num estado de histeria, aonde todo mundo pensa estar informado, mas estão, na verdade, cheios de informação sem valor algum. Informação que não gera maiores atitudes que comentários e reclamações, que sequer viram denúncias. Em especial, os agentes políticos também precisam se apoderar deste cenário para garantir sua sobrevivência, já que o voto, por ser uma coisa tão simples e poderosa ao mesmo tempo, se torna uma importante mecânica no jogo de poder.

É justamente este jogo de poder, construído através da terceirização da responsabilidade, que quem tem mais poder continua a investir nos mecanismos necessários para continuar com seu poder. Por exemplo: um político que compra alguma mídia especifica apenas para falar bem dele, ou que compra algum servidor público de modo a fornecer informações imprecisas e que não são revisadas por ninguém, já que ninguém tem interesse no que realmente acontece, apenas no que aparenta acontecer. Este é um cenário de histeria perigoso, pois pode formar grupos que não acreditam em uma fonte única de informação, de modo a estabelecer lados que pensam ser os únicos corretos, pois estes estão submetidos apenas ao seu próprio ponto de vista da realidade. Quando isto acontece, quem é se acha o correto quer fazer o certo reinar, mesmo que precise utilizar de violência para tanto.

Vejamos, por outro lado, o que aconteceria caso a população tomasse sua responsabilidade naquilo que é público: a primeira e imediata consequência é uma enorme diminuição do poder político. Através da diminuição do poder político, há um aumento do poder dos agentes comunicativos, que passariam a ter como principal interesse sua própria sobrevivência autônoma. Também, pessoas que são responsáveis estão interessadas em fazer as coisas funcionar, e por desejarem fazer as coisas funcionar, a importância que elas dão à realidade se torna maior, e também elas estarão mais atentas aos erros que os agentes sociais, independente se eles são políticos, empresários, criminosos, ou da própria comunicação, podem cometer, pois elas mesmas são agentes sociais. Isto aumenta o interesse por informações verificadas e desestimula o interesse por informações sensacionalistas. Neste cenário, os agentes comunicativos encontram um modo completamente novo de atuação, em que eles possam sobreviver de acordo com seus princípios morais.

Para finalizar, um exemplo de como a falta de responsabilidade assombra nossa sociedade e aumenta o consumo de notícias sensacionalistas: imaginemos um trabalhador cuja principal responsabilidade é executar um serviço previamente estabelecido a ele. Ele não é responsável por criar, por pensar, por errar ou acertar. Seu erro ou acerto é simplesmente a sua capacidade de seguir ou não as regras preestabelecidas, ou ainda a capacidade de burlá-las. Assim ele se sustenta, chega em casa e também não lida com mais nada, pois tudo mais que precisa, ele compra com o dinheiro ganho em sua atividade profissional. Deste modo, qual visão uma pessoa como esta teria sobre o mundo? Qual o interesse de consumo de informação ela teria? Ora, a de saber ou não se as outras pessoas são capazes de cumprir aquilo que se espera delas, e unicamente isso.

É neste cenário que o sensacionalismo reina. Não se entende o valor da criação, mas sim da replicação de comportamento. E quando esta replicação não dá certo, se torna um caso de interesse para aqueles que costumam replicar. Contudo, infelizmente, o teor daquilo que se replica se torna cada vez mais degradante a menos que aqueles que buscam criar coisas novas também estejam interessados e fortes em sua atuação social. Num cenário de terceirização de responsabilidade, apenas pessoas com fortes cargos de liderança são incumbidas deste processo, o que gera, também, a concentração de responsabilidade, de renda, e a maior facilidade para a corrupção por toda sociedade.

O que o Devir Social espera é, um dia, ser capaz de desenvolver uma plataforma tecnológica e cultural capaz de redistribuir essa responsabilidade, ao menos de cuidar da democracia, para também as pessoas comuns, para que todos possam ser responsáveis pelo cuidado do que é público, possam utilizar sua criatividade para resolver os problemas que estes cuidados vão gerar, aprendam a lidar com as pessoas e ainda entendam, pelo menos um pouco, o árduo processo das lideranças criativas da nossa sociedade, diminuindo a sobrecarga de responsabilidade delas. Lembrar sempre que quem cuida de humanos são os próprios seres humanos. Assim finalizamos mais este texto. Um abraço a todos.

PS: é interessante notar que existem revistas especializadas em alguns setores da indústria muito bem fundamentadas, que muitas vezes não alcançam a visão do grande público. Estas revistas representam um mercado de nicho, de pessoas realmente interessadas na informação por estarem diretamente ligadas ao processo criativo de seus ramos. Ao contrário da mídia sensacionalista que impera atualmente na nossa sociedade, aonde a informação é moldada de modo a causar mais impacto, e uma vez que se descubra uma fonte de informação realmente impactante, esgotam-na até as informações se tornarem repetitivas e o público perder o interesse. No fim das contas, os agentes comunicativos parecem ser um reflexo do público ao qual eles estão atuando, e isto é uma interessante fonte de análise.

Link do facebook: https://www.facebook.com/DevirSocial/posts/560901640777529?pnref=story

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Função social da violência para o Devir Social

Podemos definir a violência como o uso da força para a quebra de um sistema previamente estabelecido. A violência física, por exemplo, danifica os sistemas corporais e causa risco ao viver humano. A violência verbal danifica a imagem social de uma pessoa, associando-a com coisas negativas e também prejudicando seu viver. A violência das leis é ignorá-las e fazer aquilo que se quer, tendo como consequência a abertura para outras violências e a não contemplação dos objetivos pelo qual aquela lei foi produzida. A violência da verdade é a mentira. A violência nunca é desejada pelos agentes vivos, traz danos inesperados, nem sempre é efetiva, costuma ser acompanhada por respostas também violentas e mesmo pode trazer a morte, então porque ela acontece?

A maior característica de todo ser vivo é querer estar satisfeito com sua vida. Para tanto, ele desenvolve leis, sistemas, regras de comportamento, e tudo mais necessário para que a vida se torne previsível e confortável, para que as coisas possam ser feitas às claras, sem o uso de violência e através da verdade. Se ele está insatisfeito com alguma coisa, ele irá utilizar todos os recursos a sua disposição para modificar aquilo até sua satisfação ser alcançada, são exemplos destes recursos: o diálogo, a negociação, a espera e a justiça. Porém, o que ele irá fazer quando ele acreditar que nada mais poderá trazer sua satisfação além da violência?

Ora, na maioria dos casos ela irá violentar. Percebam que a maior violência que todo ser vivo pode cometer é tirar sua própria vida, pois isto implica em não acreditar na própria existência. Se uma pessoa está insatisfeita o suficiente a ponto de desejar utilizar a violência em busca da satisfação, ela irá buscar aonde aplicar sua violência antes de tirar sua própria vida. Durante seu processo de busca, ela irá buscar o alvo aonde acredita que, com o uso da sua violência, seja capaz de trazer algum benefício para si e para seus semelhantes. Deste modo, todos os insatisfeitos são potenciais agentes violentadores e quanto maior a insatisfação, maior a vontade de sacrificar a própria vida em busca da mudança. Porém, há outro fator que regula esta relação: o quanto uma pessoa acredita que a mudança irá trazer satisfação para si e seus semelhantes.

Isto é fácil notar através da percepção que existem pessoas que passam a maior parte da vida insatisfeitas, com vontade de sacrificarem-se por uma causa nobre, mas sem capacidade de utilizar este potencial de violência por não acreditar em nenhuma mudança que lhes é apresentada. Já outras, embora não sejam tão insatisfeitas assim, acreditam fortemente em uma mecânica de mudança apresentada ou criada por elas, de modo que passam a violentar o que existe, mesmo sem estar disposto a sacrificar sua própria vida para dar origem a aquilo que elas acreditam. A violência, neste ponto, se torna um mecanismo de negociação no nível mais profundo do viver para instalação de novos comportamentos quando estes não conseguem encontrar outras vias para se instalarem.

Durante um processo de negociação violento, os agentes que assumem este papel devem estar cientes da responsabilidade e do risco de uso. Por exemplo, a polícia, na maioria das sociedades, tem como função vigiar seus cidadãos para que eles não utilizem de violência física ou infração de leis para ganhar vantagens ou lutar pelo que se acredita. Contudo, se o próprio sistema não dá ao cidadão um meio legal para ele alcançar o que ele acredita, ele irá utilizar a violência para tanto. Será dele a responsabilidade de se arriscar contra aquele sistema, que de imediato acionará a polícia. A polícia cumprirá sua função social, que é conter a violência. Afinal, a transformação acreditada por aquela violência pode ser realmente benéfica, mas não há como saber antes que a transformação realmente tenha ocorrido.

Um exemplo prático: numa cidade o sistema político está muito lento por preguiça de seus administradores. Nesta cidade, também, há um hospital publico cujos médicos não estão atendendo. Um determinado morador tentou utilizar todas as vias possíveis para que esta situação seja regularizada, mas nada foi feito. A população indignada que precisou daquele hospital é convocada por esse cidadão para protestar por vias legais. Mas este tipo de protesto não prevê nenhum prejuízo para ninguém e passa despercebido por todos. Por fim, este cidadão tem a opção de utilizar a violência para alcançar seus objetivos.

Resolve parar o transito daquela cidade e assim gera um desconforto que prejudica a prefeitura.  Esta, que antes não se preocupava com aquela pequena causa, se vê obrigada a negociar, caso contrário ele não para. A polícia logo se prontifica para capturá-lo, mas ele e seu grupo conseguem fugir de todos os protocolos de violência da polícia. Ora, um dia eles não vão conseguir, pois a polícia irá estabelecer novos protocolos para capturá-los, mas durante esse processo de negociação, quem irá ceder primeiro? Ele e seu grupo podem se cansar de correr perigo durante suas fugas da polícia, ou a prefeitura pode se cansar de ser prejudicada pelo transito parado. Notem que em ambos os casos, o que encerra esta negociação é um elemento humano, e mesmo animal, que é o cansaço.

Esta é a função social que o Devir Social entende para a violência. Com este exemplo, é fácil entender o porquê é tão importante respeitar todos os mecanismos lícitos de mudanças sociais já desenvolvidos, além de criar novos. Afinal, na maioria dos casos não será uma negociação simples, pois haverá duas ou mais partes que acreditam em coisas diferentes, e não existe a clara percepção de qual é a melhor. O que o Devir espera é que alcancemos, ao menos, um nível de desenvolvimento social em que uma violência preocupante seja, por exemplo, a violação de um lei e não perda de uma vida. Contudo, não é difícil encontrar sistemas sociais atualmente em que muitas vidas são perdidas, leis ignoradas e pouco se faz de realmente novo para que a situação seja resolvida. 

Quando uma pessoa rouba, ela está cometendo uma violência e também uma transformação social, mas a pergunta é: o que levou ela a acreditar naquilo como a sociedade que ela deseja para si? Quando uma pessoa violenta fisicamente outra, é porque aquela outra faz algo que ela desaprova, mas a pergunta é: porque ela não utiliza outros recursos, como diálogo ou negociação, para mudar o que aquela pessoa faz, ao invés de usar a violência? E aqueles que faltam com a verdade ou se entregam a corrupção, ferindo a verdade e as leis do seu país, por que o fazem? Não seria melhor para elas buscar outros meios para alcançar sua satisfação?

Existem casos extremamente complicados, que é preciso que a justiça intervenha com seu poder de multar ou mesmo restringir a liberdade para que a violência não seja vista como um recurso a ser utilizado. No mais, esperamos que entendido a função da violência, as pessoas pensem muito bem antes de utilizá-la. Que aprendam a negociar, a dialogar, a utilizar os mecanismos criados por nossa sociedade ou sugiram a criação de novos para que a violência nunca seja o recurso a ser tomado.

A violência é o recurso mais animalesco que um sistema humano pode experimentar, e isto a torna imprevisível, pois nunca se sabe o quanto uma pessoa está disposta a sacrificar sua própria vida e a do próximo para alcançar o que acredita ou sua satisfação. Vide homens-bomba que sozinhos conseguem levar dezenas consigo. Em um estado de guerra, mesmo que ela seja interna, ninguém está a salvo da violência. Torna-se necessário lutar para contê-la não simplesmente através do seu uso puro, mas também de mecanismo que tragam satisfação para a sociedade.

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