quinta-feira, 22 de setembro de 2016

O conceito de ética e a moral para Devir Social

Durante muito tempo os conceitos de ética e moral eram confusos para mim. Contudo, durante os pensamentos sobre a atuação das pessoas quando a plataforma que planejamos para o Devir estiver pronta, eu me deparei com uma questão simples, porém profunda e exemplificativa do que o Devir Social passará a entender como moral e ética, dentro da sistemática do nosso pensamento.

A questão inicial foi a seguinte: dada que a plataforma estivesse toda pronta e com a cultura funcionando, o que aconteceria caso uma empresa pedisse para que seu candidato a emprego mostrasse o perfil dele no Devir? O desenvolvimento do perfil do nosso projeto tem como intuito tornar o perfil do indivíduo sigiloso para as empresas ou quaisquer outras entidades que tenha interesse em controlar o cidadão para unicamente seu próprio benefício. Se para aceitar um candidato a emprego a empresa exigir, informalmente, que ele mostre seu perfil, isto está claramente indo contra os interesses pelos quais desenvolvemos toda nossa infraestrutura. O que nós, do Devir Social, podemos fazer em relação a isso?

A resposta parece-nos um tanto simples: nada. Já estamos utilizando modernos conceitos de criptografia para assegurar a segurança e sigilo do cidadão.  Poderíamos, ainda, aplicar conceitos mais modernos ainda, mas não importa quão moderno forem estes conceitos, no final sobrará à relação entre seres humanos: o empresário e o candidato. Sobre isto nós não temos, nem nunca teremos o controle. Percebam, neste ponto, que é possível a existência de uma força que pode ou não impedir que o candidato aceite a proposta do empresário, e chamaremos agora esta força de moral.

Chegamos a um interessante ponto para estudar o funcionamento da moral, principalmente neste contexto adotado pelo Devir Social. Como estabelecer um sistema de moral e como saber se ele funciona ou deixa de funcionar? Para responder a esta questão, vamos pensar um pouco mais no cenário do empresário e candidato descrito anteriormente, e adicionaremos a suposição de que o Devir Social esteja funcionando adequadamente, causando todas as mudanças que ele se propõe a fazer e beneficiando a vida do cidadão comum.

O candidato poderá recusar a proposta do empresário, com o efeito de perder sua vaga. Porém, vejamos que o malefício causado pela perca da vaga é menor que o malefício causado por ceder às pressões do empresário e mostrar o perfil, pois com isto o projeto do Devir Social, pouco a pouco, começa se corroer. Contudo, se esta for uma prática de todos os empresários, o candidato não conseguirá emprego em canto nenhum. Neste ponto, os malefícios por não ceder à pressão dos empresários serão maiores que o benefício trazido pelo Devir Social. Passaremos agora para o cenário do empresário para ter uma visão completa da situação.

O empresário que se passa para pedir ao seu candidato que ele revele o seu perfil no Devir Social provavelmente tem interesse em gente corrupta no seu time, ou que ao menos nunca tenha feito nada contra sua empresa e aliados. Porém, se todos os seus candidatos recusarem-se a mostrar seus perfis no Devir Social, ele ficará sem opção e terá que contratar um funcionário baseando-se nos critérios normais de contratação. Além disto, cada vez que ele faz a proposta, ele corre o risco de ser pego e possivelmente receber represaria, seja pelo público ou mesmo da justiça.

Vejamos, portanto, que este é um processo de negociação que não envolve apenas um empresário ou um candidato, mas sim um conjunto de empresários e candidatos. É neste contexto que a moral entra como uma força atuante e reguladora das relações humanas, afinal, ela é o comportamento que os atuantes de um sistema esperam que traga mais benefícios para si, de acordo com o que ele pode perceber de como seus semelhantes e outras grupos sociais atuam e do que funciona ou não neste sistema.

No nosso contexto, existem três grupos: o Devir, que beneficia aos candidatos, é neutro aos empresários honestos, os candidatos, que podem ter uma pequena vantagem ao degradar o Devir para os empresários que não são honestos, mas também tem vantagem do Devir, e os empresários, que acabam sendo vez ou outra prejudicados pelo Devir se forem desonestos e se beneficiariam caso o Devir não existisse. A moral aqui, portanto, é a força que regula o qual atitude um indivíduo enfrentará diante de um dilema, e é calibrada de acordo com os benefícios e malefícios que ele espera para si e para aqueles que atuam no mesmo sistema que ele.

Através deste conceito, é possível que façamos uma relação entre os benefícios trazidos pelo Devir Social, os benefícios trazidos pelos empresários desonestos, e o discurso moral dos candidatos, para saber como anda a calibragem da moral nesta dinâmica social. De antemão, torna-se claro que um comportamento que a princípio vai contra a moral das pessoas, como roubar, passa a ser considerado dentro da moral delas, caso quem roube não saia no prejuízo, de alguma forma, mesmo que sendo também roubado. É isto o que explica um grupo de ladrões serem honestos entre si, mas desonestos com os diferentes.

O funcionamento da moral está diretamente ligado ao que ela acredita funcionar para a sociedade, e quando este algo deixa de funcionar, a moral se transforma de modo a se adequar a nova realidade social. Isto nos leva a perceber o quanto importante é a inovação para a manutenção da moral: quanto melhor um sistema funcionar, mais as pessoas vão ter um senso moral mais humanizado. Percebemos, também, que é importante que as pessoas que se preocupam com a lei avançarem mais em suas tecnologias que as pessoas interessadas na transgressão da lei, pois isto garantirá uma calibragem humanizada da moral. Aqui, inclusive, podemos inserir o conceito do espaço vazio.

Começamos agora a entender a formação de grupos políticos, no sentindo de organização pura da coisa, quando a sociedade começa a perder o ser humano como seu principal objetivo de funcionamento. Por exemplo: em uma sociedade em que a figura do ser humano é valorizada, matar é errado não importa a quem. Porém, quando o ser humano começa a ser desvalorizado, torna-se normal matar certo grupo de humanos, como bandidos rivais ou criminosos. Neste caso, existe algo que está sendo mais valorizado que o ser humano: não se acredita que o ser humano funcione, mas sim o sistema a qual ele faz parte. Outro excelente exemplo é o estado de um país. No seu estado normal, matar é errado, mas em estado de guerra, matar o inimigo torna-se comum.

É interessante aqui esclarecer que o Devir Social pretende ser um movimento humanista. Nossa maior valorização é o ser humano, e acreditamos que a morte nunca é a resposta, mas sim a inovação tecnológica, o testemunho, o aprendizado, a recuperação. Esperamos um dia avançar nossa sociedade ao ponto em que ela consiga fazer bom uso da natureza também, ao ponto de perceber o que é vivo como seu semelhante. Mas, o que podemos fazer agora é projetar apenas o que acreditamos ser o próximo passo. Com isto encerramos a moral, que é um comportamento de calibragem individual, e passamos para a ética. O que significará a ética para o Devir Social?

O Devir Social entendeu a ética como a moral de uma empresa. Ora, se a moral é algo individual, e uma empresa é um conjunto de indivíduos, cada indivíduo tem sua própria moral. Mas seguindo o raciocínio anterior, existe um comportamento médio que se torna benéfica para aquela empresa, seja para a sua credibilidade, eficiência de atuação, organização interna. Este comportamento nós chamaremos de ética. Como anteriormente estabelecemos, o governo é a empresa responsável pelo processo de continuidade, neste sentido, a ética cidadã existe. Cada empresa também pode ter seu próprio conjunto ético, aonde todos possam compreender seus princípios para fazer a atuação daquela empresa bem fundamentada e harmonizar seu convívio social.

A ética não é o direito. O direito é uma instituição humana com poderes de atuação. Uma empresa pode ter seu próprio direito interno, o conjunto de regras que contempla deveres e punições para cada funcionário. Mas isto não é a ética. A ética tem função de aconselhar, direcionar, guiar. O direito tem função de fazer funcionar o presente. Já a ética, o futuro. Isto pode ser percebido através de uma analogia com a moral: uma pessoa que faz um ato que para ela é imoral pode ou não ser prejudicada, mas no fundo ela sabe aquilo está correndo perigo, pois ela pode sofrer as consequências mesmo sem saber quando, seja através da justiça ou de outras formas, como um conjugue que traí seu parceiro.

O Devir Social, neste sentido, pretenderá construir sua própria ética de funcionamento para esclarecer a todos como acreditamos ser o melhor modo de funcionar para alcançarmos com mais eficiência e segurança nosso objetivo. A quem quiser agir diferente, é livre para tanto, mas será responsável pelas consequências caso elas ocorram, no âmbito judicial, por exemplo. Se a pessoa seguir a nossa ética, provavelmente ela não sofrerá consequências. Em um caso ou outro, sempre estaremos interessados em acompanhar nossos usuários, para apoiá-los e aprender com eles. A construção da ética do Devir Social se fará através do seu funcionamento, portanto, um dia isto entrará como postagem no nosso blog. Com isto, encerramos este tema. Um abraço a todos e até a próxima postagem.

Postagem no facebook:
https://www.facebook.com/DevirSocial/posts/553030681564625

sábado, 3 de setembro de 2016

Devir Social e sua aplicação na economia, parte 3 de 3

Mudanças nos comportamentos: assistência social.

A assistência social é algo muito comum em lugares aonde reina a pobreza. Contudo, o Devir Social enxerga um problema em muitas dos movimentos de assistencialismo social: eles parecem tratar o povo como uns coitados, que precisam de ajuda, de um herói, e não são capazes de crescer sozinho. O pior efeito deste tratamento é quando o próprio povo acredita nisto, gerando o que o Devir Social já apontou em seu manifesto constituinte como Terceirização da Responsabilidade. A questão é que, nas relações humanas, não existe herói, vitima ou mocinho. São todos seres humanos, todos tem alguma responsabilidade, mesmo que desprezível, em qualquer coisa que aconteça em nosso ambiente porque somos todos conectados por ele. Portanto, uma vez que se permita a terceirização da responsabilidade, se permite também que o povo se torne massa de manobra, servindo como alavanca político-econômica para pessoas que não estão realmente preocupadas com o povo, mas sim com seu poder.

E qual é o poder do povo, afinal? Na democracia, este poder é o voto. Porém, além do voto, o povo tem uma força pura, animalesca, da qual quaisquer seres humanos que tentam dominar através da inteligência e do distanciamento do viver humano teme, que é a violência. O estado previne-se, através de seus militares, para quaisquer eventuais atos de violência partidos do povo, contudo, um povo unido e com vontade de lutar por algo é imbatível. Afinal, não faz sentindo matar e prender todo o povo, porque é ele que sustenta os militares, os políticos e afins. Por isso, o Devir Social acredita que é preciso que se mude o jeito de se fazer assistencialismo social.

O dever daqueles que podem fazer alguma coisa não é ajudar, mas ensinar e dar condições para que o próximo possa fazer por conta própria. Quem está na condição de precisar de ajuda, assim está por processos históricos ou por erros pessoas, mas quem ajuda também tem o que aprender e a se beneficiar com a melhoria do próximo. Não é uma relação de quem ajuda se sentir bem por estar sendo caridoso, mas sim de ajudar para ser ajudado, pois todos somos seres humanos, podemos precisar de ajuda e também temos a capacidade de ajudar. Se aquele que pode ajudar se negar, que o faça, mas será dele a responsabilidade quando, daquele que precisou de ajuda surgir uma força muito maior que antes não era necessária: a violência. Ou se espera mesmo que aquele que passa fome ou não consegue progredir na vida fique de braços cruzados, olhando todos felizes menos ele?

Novamente, lembramos que a relação humana é dupla: aquele que será ajudado também precisa querer ser ajudado. Neste sentindo, lembramos que toda relação humana é uma negociação. Se ele não quer ser ajudado, também que não seja violento. Lembramos também que ajudar ao próximo é uma responsabilidade. Não é algo para ser feito de qualquer jeito, e nem pensar que fazer de qualquer jeito trará sempre resultados positivos: quem quer ajudar, mas não o fizer do jeito correto, só fará atrapalhar tanto aqueles que querem ajudar quanto aqueles que estão recebendo a ajuda. Portanto, que seja sempre claro as responsabilidades daqueles que assumem a posição de ajuda ao próximo. Quanto mais pessoas estiverem produtivas em uma economia, mais ela será ativa e se focará no bem-estar que na contenção daquilo que não funciona. Afinal, pessoas em situações muito extremas podem deixar-se ser consumidas por drogas ou outros vícios destrutivos por falta de esperança no ser humano.

Há também o perigo de uma estrutura de assistencialismo social ser utilizada como ferramenta de manobra por políticos ou quem queira assumir algum tipo de poder de forma indireta. Neste sentindo, elas se corrompem, pois embora aquele que ajuda diga que está lá para ajudar, sua real intenção é fazer um investimento para ganhar mais no futuro. Uma vez no poder que ele desejou, sua preocupação não será fazer aquilo que deve ser feito para continuar ajudando, mas sim apenas manter as aparências e atuar naquilo que ele realmente quer de forma sorrateira e ilegal. Há, inclusive, possibilidade dos políticos financiarem voluntários, que muitas vezes estão ali apenas para manter a aparência de trabalho e arrecadar votos para eles. Isto porque não estamos falando de desvio ou superfaturamento de ajuda, coisas que podem acontecer internamente se as pessoas que se envolvem genuinamente com o movimento não se preocupam em fiscalizá-lo. Portanto, assistencialismo social é algo muito sério. Não deve ser feito por qualquer um e sem responsabilidade.

Mas, afinal, de quem é verdadeiramente a responsabilidade de ajudar aos que precisam, se não do governo? Ele não é a entidade responsável pelo processo de continuidade? Portanto, não seria teoricamente redundante ter instituições fixas de assistencialismo social? Por ser a entidade responsável pelo processo de continuidade, é responsabilidade do governo prover todos os recursos necessários para o cidadão ter o mínimo necessário para poder iniciar seu processo de recuperação ou inicio de crescimento, para assim viver sua vida com o mínimo de dignidade e chances de crescer. Para tanto, novamente alertando, é preciso que o indivíduo também reconheça seus erros, sua história e esteja disposto a aceitar a ajuda e dar inicio à sua recuperação, estado que nem sempre é simples de alcançar.

Porém, não é isto o que acontece num governo confuso e corrompido. Ainda mais, numa cultura que usa o assistencialismo social para se promover e receber votos, é previsto apenas a continuidade desta cultura, que precisa de pobres para continuar. Portanto, o que o Devir Social espera que aconteça é que, tanto os pobres tenham a noção da sua força quanto àqueles que querem ajudar entendam a responsabilidade do que estão fazendo. Afinal, com um estado democrático de direito perfeitamente atuante, as pessoas sequer precisariam se preocupar com um sistema fixo de assistencialismo. A ajuda social ocorreria apenas para suprir demandas as quais o governo não teria tempo para se preparar e lidar adequadamente. Portanto, cabe a reflexão no final deste texto: que tipo de atitude é possível tomar para prover um real processo de recuperação, ao invés apenas de manter o assistencialismo social como um recurso de subida de poder?

Um último detalhe: toda e qualquer ação do governo sempre será mais lenta que ações de iniciativa privada. Isto porque o governo todo o governo só realiza uma atitude após seus mecanismos de aprovação social terem tempo de analisar e decidir pelo sim ou não. É por isto que, em algumas constituições, existem estados de emergência: como os de guerra ou catástrofe, para que o próprio governo possa agir com mais velocidade. Com isto, encerramos esta série de artigos que misturou a visão do Devir Social sobre a economia. Gostaríamos de alertar a todos que o Devir Social ainda é um movimento teórico, mas que está buscando vivenciar tudo aquilo que ele prega para saber se seus princípios são realmente válidos ou não na realidade. Isto, o tempo e a troca de experiência entre todos aqueles que participam do projeto será capaz de responder. Um abraço a todos e até a próxima.

Parte 1: http://devirsocial.blogspot.com.br/2016/09/devir-social-e-sua-aplicacao-na.html

Devir Social e sua aplicação na economia, parte 2 de 3

Mudanças nos comportamentos: relação empresa-cliente.

Após concluirmos no texto anterior que quaisquer formas de pensamentos econômicos extremos desrespeita, segundo a visão do Devir Social, os valores estabelecidos na revolução francesa, trabalharemos agora com os pequenos comportamentos que ainda hoje são praticados na nossa sociedade. O objetivo desta analise é demonstrar as consequências destes pequenos comportamentos para a macroeconomia e também como o princípio defendido pelo Devir Social pode alterar estes comportamentos de uma forma benéfica para toda a população. Iniciaremos pensando na relação entre cliente e empresa, muito importante para nossa sociedade atualmente que vive em um contexto de globalização. Neste sentido, entenderemos o governo como uma empresa com prerrogativas especiais, por ser estabelecida através do voto e com a função de dar seguimento à continuidade social.

É muito comum pensar que a relação entre empresa e cliente é estabelecida somente através do vinculo de produção e consumo. Porém, o Devir Social gostaria de lembrar que, na prática, são seres humanos lidando com seres humanos. Na dimensão humana, não temos somente a relação do mecanismo social, empresa, com o mecanismo social, clientes. Temos a relação humana, e isto implica em uma série de coisas muito profundas. Em ultima estância, é possível perceber que o relacionamento humano evoca valores que até os próprios humanos desconhecem e muitas vezes atribuem à atuação divina. Dito isto, é preciso refletir se a relação entre cliente e empresa é tão simples quanto se diz. Se o cliente simplesmente deve procurar outra empresa caso aquela não esteja funcionando adequadamente, e se a empresa deve se preocupar apenas com o lucro em detrimento do entendimento do cliente sobre como ela funciona.

O capital é capaz de se mover com uma velocidade incrível, de modo a construir e destruir empresas em instantes. Neste sentido, se a relação entre cliente e empresa for muito fraca, aqueles que desejam acumular capital para deter maior poder sobre a sociedade sempre verá uma oportunidade de crescer através de mecanismos que funcionam em curto prazo, mesmo que em longo prazo eles sejam prejudiciais para a sociedade, são eles: o desenvolvimento sem visar à sustentação global; a venda de produtos com efeitos colaterais maquiados, escondidos ou prejudiciais em longo prazo por valores inferiores ao da concorrência com função semelhante, mas que combatem estes efeitos; falta de preocupação em longo prazo, na maioria dos casos, no local aonde atua, já que a preocupação primária é acumular capital para continuar acumulando capital, caso contrário vem outra empresa e toma seu lugar; utilização de mão de obra barata em um determinado nicho social para baratear a venda para outro nicho social, neste caso não devemos esquecer que a sociedade é conectada e a mão de obra barata vai resultar em pessoas insatisfeitas, sem capacidade de viver com dignidade e que, portanto, acham que é justo retribuir a sociedade na mesma moeda com assaltos, roubos e etc.

Desta forma, concluímos que, enquanto o relacionamento de empresa e cliente for fraco, a empresa que pensa em curto prazo sempre irá se beneficiar. Mesmo que essa empresa cometa crimes, a justiça não irá conseguir atuar na mesma velocidade que ela. No dia que ela for fechada, alguns dos seus proprietários serão punidos, mas surgirão mais algumas dezenas de pessoas inventando jeitos novos de enganar o consumidor e fazer uma sua empresa crescer através da mentira. Além do mais, mesmo os proprietários punidos, o que nem sempre é uma realidade, eles já vão ter acumulado capital o suficiente pra ter se transformar completamente em uma nova empresa na fachada, mas com a mesma intenção de crescer através de estratégias que funcionam em curto prazo, mas são deteriorantes sociais em longo prazo. E o empreendedor que se preocupa com a qualidade de vida do lugar aonde ele atua, onde que fica nesse contexto? É possível concluir que ele simplesmente não terá oportunidade para crescer. Afinal, se ele se preocupa com o impacto da sua atuação terá sempre uma condição que irá restringir sua capacidade de inovar e obter lucros na cultura imediatista que se apresenta agora.

Qual atitude o Devir Social espera da relação empresa e cliente? Que ela não seja tão frágil se pede que seja. Que, apenas uma pequena diferença de preço não faça um cliente migrar de um produto para outro. Porque não investigar um pouquinho mais sobre aquele diferencial no preço? Talvez seja alguma mecânica ilegal! Portanto, cabe ao cliente sentir e entender as pessoas que estão do outro lado da relação: elas realmente estão interessadas em fazer o que é melhor para todos ou só estão tentando crescer indevidamente? Ou são pessoas preguiçosas que herdaram a empresa e apenas querem manter-se bem na vida, sem querer inovar ou melhorar seu produto? Isto pode ser sim complicado, pois obviamente haverá pessoas mentiras querendo e construir uma imagem falsa, mas mais complicado será lidar com uma sociedade que ninguém sente prazer ou acredita naquilo que faz. Afinal, em toda relação humana também há mentiras e será o tempo o responsável por demonstrar quem mente ou fala a verdade. Assim, através do tempo, espera-se que o cliente mantenha relação de fidelidade com empresas que forneçam produtos importantes pra ele que vai além do preço e do bem-estar imediato.

Parte 3: http://devirsocial.blogspot.com.br/2016/09/devir-social-e-sua-aplicacao-na_20.html

Devir Social e sua aplicação na economia, parte 1 de 3

Diálogo com grandes pensamentos econômicos.

O Devir Social, em sua essência, é um movimento social que busca afirmar que quem cuida do ser humano é o próprio ser humano. Esta afirmação tem suas consequências para os diversos modelos econômicos vigentes atualmente no pensamento da maioria das pessoas. Portanto, este artigo tem como objetivo fazer um diálogo entre estes pensamentos e a afirmação aqui proposta de modo a elucidar como, na prática, o Devir Social pretende atuar. Antes de começar, contudo, é preciso lembrar que o Devir Social é um movimento que atua em conjunto com a democracia e o direito, como já explicado no manifesto constituinte.

Antes de continuar, contudo, é preciso explicar o porquê estes três princípios de geração do direito são tão importantes: eles foram construídos por pensadores, mas vividos pela sociedade. Foram construídos não somente no campo do pensamento, mas também no campo da prática. Portanto, quem tiver a coragem de ignorar estes princípios deverá saber muito bem o que está fazendo e as consequências de um sistema montado em seus novos princípios: ele terá de lidar com a morte, violência, suicídio, traição, roubo, falta da perspectiva de crescimento, doenças, mentiras, solidão, terrorismo, falta de alegria ou quaisquer outras anomalias que acontecem com o ser humano no campo sentimental, mas não no teórico.

A continuação destes três princípios geradores tem mais duzentos anos, pois foram instaurados na revolução francesa 1799. Portanto, eles já lidaram com muitas anomalias e mutações que ocorreram no sistema e ainda continuam fortes no direito de grandes sociedades do nosso mundo. Isto implica que se qualquer pessoa quiser sugerir outra ideia, não importa o quanto sua ideia faça sentido na cabeça dela, ela precisa fazer com que sua ideia cresça para que sua ideia seja validada pelo tempo e pela vida.  Somente assim aquela ideia será demonstrada forte o suficiente para ser assimilada por muitas pessoas ou pela entidade responsável pela continuação da sociedade. Portanto, o Devir Social fará pouco esforço quaisquer pensamentos que ignorem estes três.

Em especial, refutaremos os dois principais pensamentos econômicos vigentes na sociedade mais extremistas: o socialismo e o liberalismo. O primeiro diz que não existe deve existir propriedade e que tudo deve ser comum e organizado pelo governo. O segundo diz justamente o contrário, que a propriedade deve existir e que o governo deve ser mínimo ou inexistente. Em ambos os casos há claros ferimentos aos princípios explicados acima. O primeiro fere a liberdade, que instituiu o direito à propriedade como forma de estabelecer o senso de construção do individual na sociedade, e o segundo fere a fraternidade e a igualdade, que instituíram o direito aos impostos e ao acesso a níveis de bem-estar mínimos independente da renda social, respectivamente.

Em ambos os casos é possível notar que o governo e a propriedade são pautas de discussão. Isto não é à toa: são estas duas entidades os principais agentes econômicos atuais da nossa sociedade. Portanto, explicaremos agora qual a função social, segundo a visão do Devir Social, destas duas propriedades para facilitar a discussão no decorrer do texto. A função do governo é ser a principal entidade responsável pelo processo de continuação. Isto significa que ele irá olhar para toda a sociedade e atender as principais reivindicações para evitar que os seres humanos cheguem ao ponto de se tornarem destrutivos e violentos. Já a função social da propriedade é ser capaz de materializar o esforço do individuo de forma ordenada e justa, de modo que não seja necessário recorrer à violência para proteger aquilo que ele sente ser seu. A propriedade foi formalmente definida no direito através da revolução francesa, já mencionada anteriormente, através da luta da população contra aqueles que usurpavam o direito à propriedade que estava estabelecido apenas culturalmente. 

Percebam que em ambos os casos percorrermos pelo campo da sensação. Ambos os campos são violados por extremistas que afirmam que um ou outro modelo econômico deve ser adotado pela população, e essas violações não são acompanhadas por princípios tão ou mais fortes quanto aqueles que são violados. No caso do socialismo, a falta de função da propriedade é algo claramente visível, aonde se tem muito daquilo que, naquele momento e contexto, não é importante. No caso do liberalismo, existe a falta de garantias mínimas ao indivíduo de que, caso algo inesperado aconteça com ele, ele terá algum tipo de proteção.

A quem discordar disto: como se espera que uma pessoa que passou a vida toda fazendo uma coisa só se adapte tão bem a uma mudança de paradigma tecnológico e cultural ao ponto de, ainda sim, continuar produtivo economicamente? Que entidade vai dar, se não o governo, as garantias de que essa pessoa vai ter uma vida digna caso lhe ocorra um acidente? Ou o ser humano é isento a acidentes ou erros? Ou preferem que aqueles que não conseguem ser capazes de produzir economicamente comentam suicídio? Há liberalistas que chegam ao ponto de falar em justiça e aposentadoria privada: isto não seria utópico ou caro demais para ser implantado? No mais, entre estes sistemas, se não houver um central, quem irá resolver os possíveis casos de calote ou roubo que acontecerá entre eles? Há de se dizer que uma empresa que der calote em seus usuários nunca mais se reerguerá no mercado. Mas nem precisa: o calote foi o suficiente para que os seres humanos que nela atuam fiquem ricos e aqueles que foram prejudicados fiquem extremamente prejudicados.

Concluiremos o diálogo com estes dois modelos econômicos lembrando que, para o Devir Social, não existe melhor calibrador social que a democracia. Portanto, numa democracia que funciona, espera-se que a função social da propriedade e a atuação do governo estejam adequadamente reguladas às características histórias e geográficas daquele determinado estado ou país, que este regulamento seja feito através do voto, não da violência. Porém, o que ocorre atualmente no mundo não é um problema dos sistemas econômicos, não sendo, portanto, essa a principal pauta que devemos debater em um texto que se propõe a analisar os problemas sociais que ocorrem em um país. Nosso principal problema é a democracia que não funciona. Como pensar economicamente em um lugar aonde a democracia não funciona? Portanto, lembremos o principal objetivo do Devir Social: lembrar-nos que quem lida com seres humanos são seres humanos. Vamos agora à próxima parte destes artigos, que irá lidar com comportamentos mais específicos do nosso mercado atual

Postagem no face: https://www.facebook.com/DevirSocial/posts/544808799053480
Parte 2: http://devirsocial.blogspot.com.br/2016/09/devir-social-e-sua-aplicacao-na_3.html