sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Devir e os conselhos sociais

Introdução:
    Atualmente os conselhos sociais atuam em vários setores públicos e em várias instancias. Contudo, o Devir Social acredita que tanto a filosofia quanto a atuação dos conselhos sociais devem ser aperfeiçoadas, para torná-los fortes e orgânicos à uma nova organização social que visa dar ao cidadão outros espaços de atuação democrática além do direito ao voto tradicional. Para tanto, será preciso entender diversos princípios que serão discorridos durante este texto para evitar que os conselhos sociais sejam desvirtuados de sua função. Começaremos com uma breve explicação sobre o que são os conselhos sociais: são órgãos colegiados que tem como finalidade se envolver com as políticas públicas de modo a garantir que elas sejam realmente eficazes naquilo que se propõem a fazer. Este envolvimento é regulado e garantido por lei, e todo conselheiro que faz parte do colégio elegido executará sua função voluntariamente.

Princípio da distribuição da responsabilidade:
    Os conselhos são uma entidade com poder jurídico, e tal poder costuma atrair aqueles que querem conquistar uma vida melhor de forma ilícita através do estado. Um dos principais aspectos que costuma atrair este tipo de pessoas, que é a remuneração, já é tratada pelo formato dos conselhos, que diz que não existe remuneração para conselheiros, sendo um trabalho essencialmente voluntário e destinado aqueles que desejam ter uma maior participação democrática e contribuir para um estado melhor. Porém, ainda sim é possível que possa existir outros tipos de acordos, que visam desvirtuar a função dos conselhos para que não prejudiquem aqueles que trabalham através da irregularidade e da ilicitude, o que conhecemos claramente como corrupção. Para evitar isto, o Devir Social propõe o princípio da distribuição da responsabilidade.

    Este princípio é suportado pelo seguinte pensamento: se a responsabilidade de uma decisão importante está concentrada nas mãos de poucas pessoas, o prejuízo daqueles que serão alvo de tal decisão pode ser menor se, ao invés de receber a ação da decisão, utilizar parte menor deste prejuízo para pagar a aqueles que tomam a decisão decidirem contra o prejuízo. Exemplo: uma empresa é auditada por um conjunto de fiscais e terá um prejuízo de seis milhões de reais. É muito mais lucrativo pra ela pagar 1 mi pra maioria dos fiscais, de modo a fazê-los ignorar a irregularidade, que pagar 6 mi para regular-se e manter o estado em bom funcionamento. Como resultado, observa-se o enriquecimento dos fiscais em detrimento da melhora de vida da população deste estado.

    Com a distribuição da responsabilidade, aumentando-se o número de fiscais, torna-se cada vez mais caro para a empresa pagar a maioria de modo a convencê-los a decidir contra. Além disto, um maior número de fiscais também aumenta a resistência moral do grupo, principalmente se estes fiscais forem escolhidos democraticamente, e for interesse da população que eles atuem de modo firme e honesto para benefício de todos. Este, afinal, é o cenário dos conselhos sociais. A distribuição da responsabilidade, contudo, tem um custo: as decisões se tornam mais demoradas. Por isso é inviável aplicar este princípio no setor executivo já que ele é caracterizado pela necessidade de rápida atuação. Também, distribuir a responsabilidade no setor legislativo é inviável, pois os legisladores profissionais são remunerados, e sua total liberdade de legislação já os torna alvo de todos aqueles que desejam desvirtuar o estado da sua licitude.

    O princípio da distribuição da responsabilidade implica diretamente na calibragem do número de cadeiras de conselheiros. Ora, se um conselho toma decisões importantíssimas para o equilíbrio do poder de município, fica claro que tanto a sociedade civil quanto as empresas que desejam lucrar através da ilicitude vão desejar cargos neste conselho. Porém, se os cargos forem poucos, a responsabilidade fica concentrada. Neste sentido, é preciso que haja mecanismos para aumentar o número de vagas sempre que o interesse no conselho for grande o suficiente a ponto de que os conselheiros atuem por outros motivos mais, além do seu interesse de participar da democracia e da construção de um estado melhor. Deste modo, com um número maior de pessoas para alcançar a maioria numa votação, será maior o preço do suborno e da desvirtuação da entidade a ponto que se torne inviável, na prática, desvirtuá-la.

    Ainda, é possível um cenário em que haja a diminuição do número de cadeiras de um conselho. Quando uma área de atuação pública perde sua importância para as pessoas, por exemplo, é natural que os conselheiros, que são voluntários, percam sua motivação de atuar naquele lugar. Sendo assim, o número de faltosos nas votações será maior, e até mesmo impossibilitante se o número de cadeiras não for reduzido. Um mecanismo que o Devir Social propõe é que, além da votação para conselheiro, também seja votado há o aumento, diminuição ou constância no número de cadeiras do conselho na próxima eleição. Para o uso deste instrumento, contudo, é importante que o público eleitor fique atento nos interesses envolvidos em cada conselho, o que, de outra forma, também irá influenciar na educação política da população.

A paridade dos conselhos sociais, sindicatos e políticos:
    Para o Devir Social, torna-se claro que os conselhos sociais são uma entidade de organização civil. Sendo assim, todo seu colegiado deverá ser constituído por pessoas civis, interessadas e/ou alvo da implementação da política ou atuação pública em questão. O trabalhador cujo ofício é regulamentado por contrato jurídico-social, contudo, terá sua entidade de representação, que são os sindicatos, que podem ou não ter estrutura semelhante à dos conselhos sociais. Sendo assim, forma-se o seguinte equilíbrio de poderes: a sociedade civil atuando através dos conselhos, os trabalhadores atuando através de seus sindicatos, e os políticos, que tentam implementar políticas que funcionem e melhorem a sociedade para servir de plataforma para a reeleição, além de ser deles o controle da finanças do estado que irá suportar a implementação da política em questão. Cada um irá exercer sua função para impedir os vários mecanismos de corrupção e desvirtuação do poder já tão conhecidos por toda população.

    Por exemplo: sem sindicato e sem conselho social, o político pode implementar uma série de maquiagens para ficar bem na propaganda e enganar nos números, de modo a criar uma realidade para a maioria que é inexistente para aquela minoria em específico. Isto causa um completo caos social, já que as pessoas comuns vão ficar sem entender de onde vem à violência e a insatisfação, mas pelo menos o político está reeleito, o que irá garantir sua sobrevivência no poder. Os sindicatos por si só, sem a implementação de políticas sólidas e atuantes, tornam-se uma entidade apenas de papel, o mesmo acontece com os conselhos. Se os políticos se unirem somente aos conselhos ou somente aos sindicatos, a outra parte sairá prejudicada: a população irá ter um trabalho relaxado por parte dos trabalhadores, já que estes não terão nenhum agente de pressão ligando-se diretamente a eles, ou os trabalhadores irão atuar demais para dar os resultados para os conselhos e políticos. Torna-se um equilíbrio entre poderes que só acontece quando a política é implementada de forma clara, organizada, através da lei e da negociação lítica entre as partes.

    Contudo, é possível supor que um conselho social não irá atuar em determinada área de política pública sem a consultoria daqueles que pertencem a tal área. Um cidadão civil interessado em fiscalizar, por exemplo, precisa entender como o trabalho é realizado para ter condições para tal. Os conselhos sociais tem poder de atuação prevista por lei, então é interesse dos trabalhadores que tal poder seja exercido da melhor forma possível para evitar abusos, e isto só acontecerá através da consultoria. Neste aspecto, é possível também imaginar que, com a atuação dos conselhos, a ética será remodelada. Afinal, os conselhos sociais nada mais são que cidadãos querendo que as coisas sejam bem feitas, e participando para que isto aconteça. Tudo deverá ser resolvido através da conversa, da negociação, da recuperação, da reeducação. Apenas casos que não sejam capazes de ser reeducados devem ser punidos. Afinal, o Devir Social entende os conselhos sociais como parte do equilíbrio que mantém o estado, que é o agente máximo de continuidade social, e parte da continuidade se dá através da educação, que acontece em meio a muitos erros e através do tempo.

Conselhos sociais e sua influência na cultura:
    Os conselhos sociais entram como um instrumento de mudança no paradigma social. Afinal, para que eles funcionem e tenham a credibilidade necessária para serem fortes, é preciso que a população entenda seu valor e participe dos conselhos voluntariamente. Os conselhos sociais são abertos para toda população e são um gigantesco espaço de atuação, pois começam nas bases da atuação de determinada política pública, e avançam sobre a administração distrital, municipal, indo para estadual e finalizando na federal. Por ser tão grande, e pelo princípio da distribuição da responsabilidade, é possível imaginar que todo conselheiro seja um cidadão eleito diretamente por seus conhecidos, o que, além de aumentar a sensação de atuação pública do cidadão, irá diminuir o espaço para estruturações econômicas fortes o suficiente para comprar conselheiros e/ou elegê-los de outro modo, que não pela vontade direta daqueles que confiaram o voto. Afinal, se é verdade a frase que todo homem tem seu preço, é possível imaginar que com tanta distribuição, nenhum agente público poderá pagar tanto pela moral dos conselheiros.

    Uma organização deste tamanho tem um enorme impacto na cultura por diversos motivos. O primeiro é que finalmente teremos um local para que as pessoas possam ter acesso à educação política. Afinal, os conselhos tem o poder de fiscalizar, sugerir, vetar ou sancionar as políticas públicas, dentre outras coisas. Também, por aumentar a eficiência das políticas públicas, é de se esperar que o estado se torne mais inteligente e organizado, o que permitirá uma organização mais precisa e eficiente dos recursos. Isto implicará diretamente no aumento da qualidade de vida do cidadão médio. Em contrapartida, este cidadão precisará ter tempo para participar dos conselhos, o que irá exigir das empresas que elas façam contratos que tomem menos tempo do cidadão para que eles possam passar mais tempo cuidando da política. Isto será algo bastante delicado a ser conquistado pelos conselhos sociais, mas será possível graças a um estado bem organizado e eficiente. Afinal, muito se fala sobre a inteligência artificial e a robotização do trabalho diminuindo a importância do trabalho humano, então nada mais justo que esta força se responsabilize por organizar esta produção.

    O Devir Social espera que com o advento dos conselhos sociais, cada cidadão esteja ligado, diretamente ou se indiretamente, não distante a ponto de não conhecer a aquele para quem ele deposita seu voto, de modo que cada área de atuação pública tenha seu conselho nas diversas esferas de poder. Portanto, é possível esperar que muitos cidadãos identifiquem-se na atuação pública através do conselho que ele faz parte. Um dirá que é do conselho de saúde, outro dirá que é do conselho da educação, outro da segurança, cada um deles usando sua inteligência, sua experiência, para, além de votar na proposta de seu político, também fazer com que esta proposta aconteça através da sua votação e atuação no conselho. Assim, diminuir a distância entre o plano das ideias e dos projetos para o que realmente acontece na realidade, coisa que atualmente é enorme pela falta de participação popular na política. Além disto, cada conselheiro se torna um líder, pois sua atuação no conselho o fará ficar a frente de diversos aspectos organizacionais da política que o fará ensinar as pessoas que o rodeiam, melhorando ainda mais a educação política do nosso país.

Encerramento:
    Os conselhos sociais, embora pareça algo simples, é uma ferramenta que altera o equilíbrio do poder político, principalmente se as pessoas estiverem conscientes da necessidade de distribuir a responsabilidade como forma de combater a corrupção e, além disto, estejam dispostas a assumir alguma responsabilidade através de sua atuação no conselho. Em consequência, assim como a proposta de reforma do tribunal de júri do Devir Social, que também explica um pouco da lógica de paridade usada neste texto, também há um aspecto de revalorização da moral e reforma da ética, dois aspectos que são muito atacados na cultura brasileira, mas que sofrem por só encontrar atuação no dia-a-dia e com tantos golpes de traições por parte da quebra de confiança que é estabelecida através do voto político. Contudo,o Devir Social enxerga que o Brasil não é o único país em crise, e usa como principal argumento para tanto as baixas taxas de fecundidade dos diversos países e sua falta de capacidade de lidar com o diferente e externo, no caso dos países velhos, ou a corrupção, nos casos dos países jovens. Agradeço a todos que chegaram até aqui, um abraço e até a próxima postagem.

OBS: quem se interessou pelo surgimento dos três poderes, leia o seguinte texto: http://barnabasspenser.blogspot.com.br/2016/12/caracterizacao-da-forca-evolutiva.html


Postagem no facebook:
https://www.facebook.com/DevirSocial/posts/597289813805378

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Devir Social e a Pátria Educadora

     O mercado de trabalho para quem não tem educação parece ser bastante selvagem. Quem não aproveita bem as poucas chances que lhe são oferecidas pode entrar num limbo de “só aceitamos que tem experiência” que impossibilita seu crescimento pessoal. Também, aqueles que estão empregados vivem sob o constante medo de perderem a empatia dos seus chefes a ponto de serem despedidos por um descuido qualquer, de modo a aceitarem, muitas vezes, situações que são indignas ao trabalhador. O resultado disto é a constante crença de que, para alguém crescer na vida, é preciso estudo. Estudo para cursar um ensino superior e conseguir algum cargo elitizado, que dá condições do trabalhador negociar com seus empregadores, ou estudo para obter os benefícios de um cargo concursado, que tem garantias de estabilidade concedidas pelo governo para evitar a negociação de cargos públicos.

    De um modo ou outro, assumiu que a educação é o único caminho viável para a diminuição da desigualdade do país. Contudo, o Devir Social pergunta: que educação é essa que até hoje nunca chegou? Os concursos públicos estão cada vez mais concorridos, e as vagas para profissionais de ensino superior estão se vulgarizando ao ponto de terem condições de trabalho semelhantes aos que não tem ensino superior, aceitando condições impróprias e trabalhando em cima de ameaças. Ora, o Devir Social conclui que, se o Brasil precisa de alguma educação, certamente não é a educação científica tão extensamente administrada por vários cursinhos técnicos que se proliferam pelo país. O governo Dilma, com seu slogan “Pátria Educadora”, parece ter atentado para a necessidade de educar como forma de diminuir a desigualdade econômica, e focou nessa mesma educação formal. Mas será essa a única forma de educar que existe?

    O Devir Social acredita que não. Mas, antes do Devir emitir sua opinião, vamos nos questionar o que pode significar educar neste contexto: existem inúmeras formas do ser humano agir, e cada tentativa tem um custo inerente. Quem vai pagar esse custo, afinal? Se fosse suposto que existe uma garantia de que a ação executada resultaria em sucesso, certamente todos estariam dispostos a pagar em tempo e recursos pelo desenvolvimento dessa ação, mas a verdade não é esta. Cada ação nova é um passo rumo ao desconhecido, que pode ser ou não bem sucedido. Com o fracasso, os custos entram para a história, para demonstrar qual caminho não seguir. Com o sucesso, se segue a continuidade, formando um conjunto de hábitos que caracterizam uma atividade social, como política, engenharia, ciências, religião, etc. Sendo assim, educar é transmitir este conjunto de hábitos bem-sucedidos ao próximo.

    Portanto, através desta conceituação de educação, fica clara a resposta de que existem muitas mais formas de educar, além da científica. Portanto, por que não explorar outras áreas de educação, que não apenas a científica? Mas uma pergunta que complementa a esta é: a quem interessa estes processos de educação auxiliares? Em especial, a educação política, que, segundo o Devir Social, deveria ser o foco da Pátria Educadora? A princípio, imagina-se que o próprio cidadão será o beneficiado em se educar nesta área, portanto, deveria vir dele o interesse em arcar com os custos de aprendizado. Porém, a coisa não é bem assim, quando observamos um estado político já bem desenvolvido e intimidador para qualquer iniciante em política. O cidadão então se sente frustrado em investir em tão bem administrado por outras pessoas que não tem interesse em dividir seu conhecimento apenas pelo bem-estar social, e ainda se movimenta para frustrar ainda mais as tentativas. A política então passa a ser uma ilha, só acessível por aqueles que conseguem ter poder o suficiente para adentrar nestas práticas ou pelos filhos de quem já está dentro.

    Sendo assim, a função do estado em educar politicamente é completamente perdida. Por mais que se tente envolver o cidadão com as práticas do cuidado público, quem tem o interesse de manter o cidadão no cabresto da compra de votos irá se articular para assim o fazer. O desafio de implementar a “pátria educadora” forte o suficiente para diminuir as desigualdades sociais é muito maior, de modo que não somente o conhecimento científico seja o suficiente para tanto. Afinal, quantas são pessoas que dominam bem sofisticadas técnicas científicas, mas perto da força política que permite o bruto acumulo de dinheiro desonesto, nada podem fazer? Esta é uma questão política, afinal de contas, e embora a ciência possa auxiliar, só a política resolve. Só pessoas interessadas em desenvolver instituições políticas fortes o suficiente para fazer o bem e se contrapor a força das instituições que foram montadas para fazer o mal pode resolver. Política, no final das contas, é a organização de forças, seja para o bem como para o mal. Atualmente, aqui no Brasil, o mal, formado por aqueles interessados na corrupção e na mentir, é mestre em política.

    Para o Devir Social, a importância do estado educador não para somente na conscientização política das pessoas: é uma necessidade para o funcionamento de um estado moderno. Isto porque, através da conscientização política, as pessoas vão passar a fiscalizar, a exigir, a se manobrar, negociar. Sem a devida educação, estes processos podem ser bastante conflituosos. Além do mais, a fiscalização é um difícil processo no campo ético, pois se não for bem feita, deixará os funcionários em posição de mal-estar, com medo de errar qualquer coisa e perderem seus empregos, como também poderá fazer com que pessoas hajam com uma autoridade que não é delas, quando, através da fiscalização, imaginam-se também no direito de definir os processos por quais o funcionário de má conduta passará para se reabilitar. Educar também faz parte do processo de recuperação social, outro aspecto do estado moderno que é objetivo do Devir Social alcançar. Um funcionário com má conduta deverá ter diversos mecanismos para se recuperar, aprimorar seu comportamento, negociar novos processos de trabalho, etc. Assim, fiscalizar deverá se tornar algo natural, sendo parte do processo de materialização da vontade popular que já foi explicados em um dos artigos deste blog.

    Quais são as consequências de um povo educado em política, finalmente? A distribuição de renda. Afinal, através da consciência política, o planejamento para futuras áreas de atuação brasileiras será melhor desenvolvido, de modo que não terá nem tantas pessoas concorrendo a uma vaga de trabalho a ponto daquela função se tornar desvalorizada, como haverá pessoas capazes de atuar naquela vaga, não precisando importar mão de obra ou pagar muito por uma função que não retorna tanto assim. Para aqueles que estão acostumados a ter oferta de mão de obra barata e acumular seu capital em cima disto, assim como aqueles que se beneficiam com a ignorância do povo para roubar do governo, são notícias ruins. Afinal, a renda é uma quantia relativamente fixa, e ela distribuída significa menos dinheiro acumulado na mão de poucas pessoas. A vantagem, para todo o Brasil, é que com mais renda sendo distribuída e maior produção, nossa produtividade, de um modo geral, aumentará e muito a longo prazo. O Brasil é um país de energia e qualidade de terras elevadíssimas em comparação a outros lugares do mundo: temos muito potencial de crescimento.

    O Devir Social, com sua série de instituições para aumentar a participação do cidadão nos meios públicos, acredita que esta é uma oportunidade única para não somente aperfeiçoar a relação entre os três poderes como também desenvolver uma via institucional de educação política para o cidadão. Com isto, o governo realmente terá condições de atuar como um “educador político”, não somente por interesses partidários, mas por interesses à nível de organização da relação dos três poderes. Isto é algo extremamente relevante, já que se cria uma unidade de harmonia entre todos aqueles que tenham o interesse no bom funcionamento do estado para resolver os conflitos pontuais e características individuais que cada região e contexto histórico apresenta e que a força do livre mercado sozinha não é capaz de resolver. Precisamos sim, de uma Pátria Educadora, para resolver as desigualdades de atuação política e de distribuição de responsabilidade neste país, e com isto, diminuir a desigualdade social e econômica. Uma sociedade mais justa, através do aprendizado e não da violência, é isto o que o Devir Social espera alcançar através das suas reformas.

    “Com o aumento da mecanização do trabalho, o tempo livre resultante do trabalhador deve se voltar a organização do seu bem-estar social. E a forma mais genuína de organização é a política e suas instituições.”

sábado, 19 de novembro de 2016

Devir Social e a discussão sobre o ensino médio

Introdução:

    No Brasil, é clara a necessidade de uma discussão do ensino médio. Sendo assim, o Devir Social se propõe, neste artigo, a aplicar seus princípios na imaginação de premissas interessantes a serem trabalhadas no desenvolvimento de uma reforma no nosso atual ensino médio. Para iniciar, será feito um rápido resumo sobre a proposta e princípios do Devir Social. Este movimento tem como objetivo acabar com a “terceirização da responsabilidade” que acontece quando as pessoas acreditam que o voto é ferramenta única e suficiente para cuidar da democracia. Também, desejamos introduzir o conceito de “pares cuidam dos pares”, como forma de permitir que as interações sociais, que geram responsabilidade, aconteça de modo harmônico e com margens de segurança adequadas. Também, assumimos que o governo de um país é responsável por seu “processo de continuidade”, ou seja, é dele a responsabilidade de desenvolver estratégias e mecanismos para recuperar e dar continuidade as diversas áreas de atuação de uma população. Com estes princípios em mente, vamos continuar o artigo.

    Quando assumimos que é do governo a responsabilidade de pensar no processo de continuidade de um país, assumimos também que é ele quem tem as condições de pensar estrategicamente sobre a futura área de atuação de seus cidadãos, e preparar uma educação que deixem aptos a atuar nisto. Isto implica que é do governo a responsabilidade de planejar o ensino médio, escolhendo as características que se adéquam à sua realidade. Garantir que todo cidadão seja passível de ter o direito à educação formal também é responsabilidade do governo pelo princípio de igualdade que a constituição federal do nosso país adota. Não adianta, contudo, fazer uma proposta de educação que abranja tudo, mas não faça nada. Portanto, para fazer uma proposta razoável e possível, é preciso analisar as condições, recursos e características as quais o país está imerso.

Cadeiras:

    Ora, mas o Devir Social por si só já nasce de uma análise destas características do nosso país. Sendo assim, utilizaremos os princípios do Devir Social como guia na nossa investigação por uma nova proposta de ensino médio. A começar, como formular uma educação que dê condições ao cidadão combater a “terceirização da responsabilidade”? É preciso que a educação dê ao aluno a consciência que, embora dinheiro possa resolver muitas coisas, é dele a responsabilidade de cuidar, verificar se os projetos estão sendo bem executados e dar a ele a consciência de seus direitos enquanto cidadão. Para tanto, o ensino da história que fundamenta os princípios da nossa constituição federal são fundamentais. Todo cidadão deve saber quantas pessoas lutaram, sofreram e morreram para escrever em uma constituição federal “todos são iguais perante a lei” e o quanto uma simples frase em um documento tão importante pode modificar a vida das pessoas.

    O ensino de geografia entra dando ao aluno todos os conhecimentos básicos necessários para analisar, prever e exigir as intervenções básicas que todo governo pode aplicar à sua região como forma de melhorar sua qualidade de vida. Além disto, a geografia e a história devem ter um aspecto local muito bem focalizados, já que é o conhecimento local que desperta no aluno a consciência de que ele pode ser fazer algo para melhorar seu ambiente, mesmo que seja mínimo, e daí seu crescimento em consciência e atuação se assim ele sentir necessidade. Vale ressaltar que isto já é previsto pelo Devir Social, quando ele pretende instalar unidades físicas em todo município para que as pessoas tenham acesso à informações primordiais do seu município de forma organizada e moderna, para que ele tenha maiores condições de votar e atuar.

    O estudo do português e matemática entra como forma de reprodução da linguagem formal. Ambas as ferramentas são primordiais para a comunicação, sendo elas as responsáveis por desenvolver no aluno a capacidade de observar sua realidade, organizá-la e transmiti-la da maneira mais precisa e simples possível, características desejáveis para o bom desenvolvimento de projetos e capacidade de se planejar estrategicamente. Sociologia entra como a disciplina que desperta no aluno a reflexão sobre os vários modelos sociais existentes em nosso planeta, de modo que ele tenha a base para a reflexão e discussão sobre medidas comportamentais que deem mais perspectivas sobre projetos políticos e consciência de voto. Filosofia entra como a história e o princípio das ciências, despertando no aluno a capacidade de ver o mundo além da científica ao estimulá-lo a desenvolver seu próprio pensamento filosófico aonde a ciência não têm ferramentas para assumir.

    Estas seis matérias são base para dar base de conhecimento para o aluno desenvolver seu pensamento crítico, a capacidade de desenvolver e de se comunicar. Estas matérias são a base, mas não suficientes. Contudo, a principal forma de avaliar se o aluno foi ou não capaz de absorver essa base é através de testes escritos, do modo tradicional. Isto porque, a assimilação destas matérias trata-se apenas de uma “reprodução” do que já foi desenvolvido e acordado por muitas cabeças pensantes em frente aos fatos in loco. Sabemos, contudo, que apenas a reprodução de informação não dá sustentação para um ensino médio competente, pois a produção é primordial no processo de capacitação de atuação de um cidadão frente às dificuldades da vida. Para tanto, o Devir Social entende como interessante desenvolver um novo formato de atuação na qual o aluno possa ingressar e aprender. (física e química fazem parte da grade de cadeiras, mas serão mencionadas a frente)

Competição:

    Que formato seria este, afinal? Para responder esta pergunta, utilizaremos o princípio da liberdade e a iminente consequência que de pessoas livres: a competição. Sendo assim, o Devir Social entende como interessante a adição de atividades competitivas no currículo escolar, de modo que o aluno aperfeiçoe suas práticas pura e simplesmente através da competição, sendo papel dos professores o direcionamento e suporte psicológico para todos os estresses e nuances que as atividades de competição exigem do cidadão. Neste ponto, o auxílio dos responsáveis civis do aluno se torna primordial, bem como a observação, por parte dos profissionais, se estes responsáveis conseguem lidar de forma saudável com a competição. Não é novidade para ninguém os vários distúrbios psicológicos que os excessos podem causar nos alunos: seja excesso de competição, como também excesso testes e reprodução.

    São diversas áreas interessantes para o aluno competir. Para o Devir Social, as principais áreas de competição. Dentre elas: programação, redação, esportes e empreendedorismo. O aluno, neste formato de ensino médio, tem que submeter no mínimo a um tipo de competição, sendo, contudo, garantido a ele a possibilidade de participar de todos. Aliás, o incentivo a participação de mais de tipo de competição deve ser algo integrado aos educadores, pois desenvolve no aluno a percepção de que ele é capaz de aprender várias formas de atuar na sociedade. Contudo, em alguns casos, alunos que se destaquem demais em suas áreas vão cair a tentação de atuar somente nela, podendo segui-la de forma profissional. Os educadores envolvidos com a competição deverão ter alguns conhecimentos para incentivar e gratificar o aluno que tenha coragem de participar e aprender, mesmo que perca, para estimular principalmente a capacidade cognitiva de “aprender a aprender”.

Artes e feiras de conhecimento:

    Atividades artísticas entram como recreação, sendo opção da escola desenvolver formas do aluno poder utilizar suas habilidades artísticas para expressar suas emoções e decorar seu ambiente escolar, de modo a desenvolver um senso de familiaridade e pertencimento nos alunos. A escola pública, de fato, é do aluno, então se a arte transformar o ambiente que ele vive em um ambiente melhor, ela deve ser incentivada. Isto, aliás, transforma o ambiente morto e padronizado de alguns estilos arquitetônicos em algo vivo, prazeroso ao aluno, e individual. A educação física também estará na grade para estimular no aluno hábitos de treino físico e alimentação saudável: isto ainda mais trabalhado nos alunos que desejam seguir a competição esportiva.

    Torna-se claro que, com um ensino médio tão diversificado e estimulante dos vários campos de desenvolvimento pessoal que o aluno possa seguir, o desenvolvimento técnico se torna menos valorizado. Estamos formando cidadãos em primeira instância, e em seguida, se assim o cidadão desejar, profissionais técnicos. Química e física entram neste contexto, deixando de serem cadeiras pesadas desta grade para serem cadeiras leves, contextualizadas ao tempo histórico do aluno, seu cotidiano e suas tecnologias, além de dar explicações para as perguntas mais comuns que uma mente curiosa tende a formular sobre o mundo. No entanto, projetos científicos podem ser estimulados nos alunos através das “feiras de conhecimento”, em que os alunos mais entusiastas podem desenvolver trabalhos de cunho científico e exibi-los para sua comunidade. Este tipo de atividade entra numa classe de “desenvolvimento puro” do conhecimento, afinal, ele não é guiado por competição e nem por reprodução, mas pelo interesse do aluno em aprender.

    Tanto as atividades de competição quanto a feira de conhecimento podem ser escaláveis para contextos municipais, estaduais e federais. No caso das feras de conhecimento, contudo, é preciso, por parte dos educadores, tomar cuidado para não inscrever equipes ou membros que não conseguem contribuir positivamente com o objetivo da feira, de modo a valorizar o aluno que o faça e desenvolver um ambiente próspero a tanto. Esta liberdade e esta responsabilidade que adicionamos aos educadores e aos alunos de cuidarem do ambiente escolar através da “arte” e da “feira de conhecimentos”, bem como a necessidade de aprender a competir, são resultados diretos do pensamento do Devir Social de que “os pares devem cuidar dos pares”. Estamos, afinal, fazendo com que o aluno escolha, através de suas habilidades individuais, a qual circuito de paridade ele deseja atuar e se desenvolver, sendo dele a escolha de participar de mais de um se assim tiver tempo ou de mudar quando achar adequando.

Recuperação e responsabilidades:

    Todas as atividades extras que os alunos fazem devem ser registradas no currículo, de modo que cada aluno saia com seu perfil curricular único ao fim do ensino médio, mas apto a ser cidadão independente de suas escolhas. Por isso, não é possível flexibilizar as oito matérias bases que aqui foram expostas. O processo de recuperação também precisa ser aplicada com cuidado por parte dos educadores. Ela pode ser modularizada, de modo que se o aluno repetir apenas em uma cadeira, ele pode fazê-la individualmente num próximo período, em detrimento da perca de tempo para exercer outras atividades como prejuízo, sendo vedado o acúmulo de recuperação de uma mesma matéria. Neste caso, o aluno precisará passar por uma analise para saber o que está afetando sua capacidade de aprendizagem e seu interesse de reproduzir os principais conhecimentos de atuação da nossa sociedade.

    Percebam, neste momento, a necessidade de comprometimento dos educadores e familiares. Esta é o principal ponto da reforma do ensino médio que o Devir Social quer estabelecer: escolas são seres humanos lidando com seres humanos. Sendo assim, é preciso que nas escolas, todos estejam conscientes, aptos e acordados por crescimento e atuação.  Se o responsável pelo aluno não entende a necessidade de dar educação formal a ele, é preciso que se desenvolvam profissionais capazes de analisar cada caso e iniciar procedimentos de educação, inclusive, para estes responsáveis, bem como os auxílios necessários para manter o aluno na escola. A realidade brasileira demonstra que temos recurso suficiente se eles pararem de ser gasto com corrupção ou projetos mal elaborados ou ineficientes. Para combater a corrupção, é consciência e atuação do cidadão em relação aos seus direitos, e para melhorar a eficiência dos projetos, o aumento do interesse das pessoas aumenta a quantidade de sugestões para seu aperfeiçoamento e a eficiência das ações. Se as pessoas não acreditarem e se envolverem com o ensino médio, ele não funciona: bem simples assim.

Profissão e continuidade:

    Quanto à formação técnica e profissional dos alunos submetidos a esse novo projeto de ensino médio, este realmente é um foco de menor preocupação do Devir Social. Afinal, assumimos que a característica que urge na nossa sociedade é as pessoas voltarem a acreditar em si, e isto não é algo que pura e simplesmente a técnica possa fazer. No entanto, cada responsável por seus filhos terá o tempo para ingressá-lo numa atividade de aprendizado profissional, desde que aprender uma profissão não comprometa o aluno em suas atividades escolares e nem seja contra a vontade do aluno. Uma vez que o aluno expressar a clara vontade de exercer alguma das atividades propostas no ensino público ao invés de aprender a profissão que o familiar o obriga, é claro o direito do estado de intervir através da lei de proteção ao trabalho do menor de idade e de seus educadores.

    Isto porque, por um lado, o Devir Social entende a necessidade que os pais sentem em dar continuidade ao seu trabalho e conhecimento através de seu filho, por outro, entendemos que a curiosidade e a vontade de atuar de uma criança é mais preciso que qualquer conhecimento a ser aprendido durante a fase do ensino médio. Se o pai conseguir ensinar sua profissão ao filho de modo que se torne prazeroso a ele aprender, que assim o seja. Isto é, inclusive, o “princípio da continuidade” sendo aplicado à família, e é algo muito importante a ser desenvolvido na nossa sociedade. Contudo, existem algumas famílias que não tem força para serem continuadas, neste caso, o ensino formal deve entrar para dar novas chances pro aluno se desenvolver enquanto cidadão. No demais, a atuação nas atividades do ensino público vai abrir no aluno a capacidade de trazer conhecimentos que melhore a atuação da sua família em determinada atividade quando lá ele começar a atuar na sua fase adulta. Isto, de certa forma, representa uma renovação na atuação daquela atividade na sociedade, o que certamente é algo benéfico ao estado.

Por processo de continuidade, é preciso lembrar também que durante a idade escolar, o aluno estabelece relações sociais que vão fornecê-lo, pouco a pouco, as experiências necessárias para a formação de uma família. Parte destas relações acontecem no ambiente escolar, parte acontece em casa. Se o aluno tiver um forte ambiente familiar, estas experiências tem maiores chances de acontecer em casa. Caso contrário, as chances de acontecerem na escola é maior. Portanto, o Devir Social assume que é suficiente que as cadeiras obrigatórias durem um turno, e as atividades de competição e extras o outro turno, estas adaptáveis ao que o aluno desejar e a escola poder oferecer. As aulas podem ser administradas de modo a fazer os alunos entre eles e também entre a sociedade, com visitas à patrimônios públicos e instituições do governo em alguns fins de semana.

Ensino privado e superior:

    As escolas privadas, neste contexto, são livres para fazerem o que quiserem. Afinal, elas já são fraternas ao pagarem os impostos e sustentarem, junto com a sociedade, o ensino público, e são livres. Isto é válido desde o ensino fundamental ao ensino superior. Contudo, o ensino público superior deve ser formatado de acordo com as necessidades de continuidade do estado, de forma estratégica, e isto tem uma implicação enorme para aqueles que aceitam ingressar ao ensino superior público: eles precisam recompensar o estado pelo investimento atendendo as expectativas de criação do curso, se assim for possível. Isto significa que o estado tem o direito, por exemplo, de ao criar determinado ensino superior, obrigar aos alunos que lá entrarem a atuarem somente dentro do país, se assim for interesse do estado. Ou, ainda, quando terminar o ensino superior público, atuar em determinado ramo industrial pré-estabelecido em acordo, sendo a privação de liberdade pena para quem não cumprir.

    Se o cidadão não desejar assumir a responsabilidade que o estado a ele atribuir para ingressar no ensino superior, ele é livre para tanto. Além disto, o ensino privado superior está à disposição para suprir as necessidades especificadas de cada cidadão, que não estão diretamente relacionadas com o interesse do estado. Desta forma, ao mesmo tempo que atendemos a necessidade de liberdade das pessoas, também atendemos a necessidade de continuidade do estado. O estado, enquanto educação formal, só através do ensino médio já cumpriu sua função: formar um cidadão capaz de desenvolver, se comunicar e atuar, de forma que o cidadão é capaz de se desenvolver com seu próprio esforço. Em outras palavras, ele “aprendeu a aprender” e “é capaz de lidar com outros seres humanos por vias formais”. Ensino superior são especificidades que são condicionadas a temporalidade e localidade da atuação do estado.

    No entanto, se o estado disponibilizar o ensino superior às suas custas, mas não atrelar à aquele que decidir ingressar nela a responsabilidade de contribuir de volta, aos poucos um estado de desarmonia se instala na sociedade. Isto porque o seguinte cenário se forma: sendo as escolas privadas livres e as escolas públicas de ensino superior aberta para qualquer um, já que não se pode discriminar, a escola de ensino privado focará sua grade curricular para fazer o aluno ter as condições de ter uma base melhor em assuntos técnicos que os alunos públicos em detrimento de sua atuação cidadã. Assim, ocorrerá um cenário em que as escolas de ensino superior pública são povoadas por alunos de escolas particulares, o que revela um pequeno contrassenso. Além disto, cada aluno de escola particular que se forma, mas não segue a estratégia definida pelo estado para aquele curso, como por exemplo, atuando com sua profissão fora do país o restringindo sua atuação a projetos que não tenham nenhum envolvimento com a estratégia do estado, está jogando desperdiçando parte ou todo investimento que o estado fez nele.

 Conclusão:

    É possível perceber através desta reformulação que o ensino médio que temos atualmente não está tão distante assim daquele que imaginamos, contudo, alguns detalhes do atual em relação ao que formulamos são primordiais para seu funcionamento. Os detalhes que faltam são justamente os princípios que o Devir Social acredita ser fundamental para a sociedade, que são a responsabilidade que todo cidadão deve ter com a coisa pública, a adição do conceito de “continuidade” para regular a relação entre aluno, escola e familiares, além da responsabilidade de “pares cuidam dos pares”, adicionada através das escolas que os alunos devem fazer durante o seguimento de sua vida escolar, a responsabilidade dos pais e educadores e envolver no processo e também a responsabilidades de todos cuidarem da escola e tornar elas um local familiar através da arte e da melhor utilização de seu espaço público. Também, reduzimos a penalidade para quem reprovar em alguma matéria obrigatória e a dificuldade técnica de todas as matérias, adicionando, em contrapartida, a contextualização local e tecnológica destas matérias e as atividades para o aluno escolher e desenvolver suas habilidades individuais e sociais, ficando a cargo do ensino superior e da família a profissionalização e especialização.

Link para facebook: https://www.facebook.com/DevirSocial/posts/578834475650912

sábado, 5 de novembro de 2016

Devir social: de pares cuidam dos pares ao tribunal de júri

Bem vindos a mais um artigo do Devir Social. Todos que acompanham o blog já têm uma base de que o principal objetivo do pensamento desenvolvido por aqui é buscar ferramentas que combatam a “terceirização da responsabilidade”, e uma das formas que acreditamos para efetuar este combate é através do desenvolvimento do comportamento da fiscalização por parte da sociedade. Também, em outras postagens, chegamos à conclusão que não existe lei capaz de cuidar dos seres humanos: apenas humanos cuidam de humanos, sendo as leis objetos impessoais invocados quando nenhuma outra forma de negociação entre aqueles que se cuidam seja alcançada. Portanto, percebam que existe uma enorme área de negociação entre as relações que cidadãos estabelecem na sociedade e que a lei não tem a menor noção que acontece: isto sempre será assim, afinal, o tempo de resposta de uma lei sempre será inferior ao fato acontecido.

Desta forma, é preciso introduzir a noção de que seres humanos lidam com seres humanos. Mas este pensamento começa a se tornar complexo quanto percebemos que, por motivos mecânicos, alguns seres humanos, que são resultantes de um determinado processo histórico, sequer terão contato direto com seres humanos submetidos a processos históricos diferentes dele. Sendo assim, a afirmação “humanos cuidam de humanos” começa a se tornar frágil e mesmo utópica, pois nem todo humano poderá cuidar de todo humano. Para resolver este problema, adicionamos a definição de “paridade”, de modo que agrupamos pessoas com processos históricos semelhantes ou iguais em um só grupo, que chamaremos de paridade. Através disto, todas as pessoas que pertençam a este grupo são semelhantes e podem cuidar uma das outras. Em outras palavras: elas têm condições semelhantes de modo a possibilitar o diálogo e negociação entre as partes.

Percebam que através deste conceito, o de “pares cuidam dos pares”, a frase “humanos cuidam de humanos”, essencialmente utópica na prática, se torna algo mais factível. Ainda mais, quando adicionamos à camada cultural a esta analise percebemos ainda mais a importância disto ser desta forma. Afinal, pessoas de diferentes culturas têm objetivos e modos de cuidar diferentes, embora nenhum destes necessariamente firam a constituição federal. A principal importância deste conceito está na seguinte máxima advinda da teoria dos três poderes: nenhum agente social deve agir sem ter paridade sob o risco dele se descontrolar ao ponto de se tornar um agente autoritário. Ora, se um agente detém o poder, ele irá explorar este poder até encontrar os limites dele para então dar inicio ao seu crescimento. Se nenhum agente consegue fazer paridade a este poder, eles se tornam escravos sem vontade própria. Ter poder, afinal, é fazer sua vontade ser materializada e com isto encontrar a satisfação. Neste cenário, haverá o agente autoritário satisfeito e os agentes escravos insatisfeitos, mas dominados pela falta de poder.

No cenário desenvolvido acima percebamos uma características importante do sistema de paridade: é a negociação entre pares heterogêneos. Isto porque a paridade pode ser tanto homogênea, como é exemplo de um cidadão lidando com outro cidadão com características econômicas, culturais e políticas semelhantes, ou heterogênea, como é cidadão que lida com o governo. Com isto já percebemos uma relação de paridade fundamental para a construção de uma sociedade nos moldes que agora conhecemos: todo cidadão é par do seu governo. Isto porque todo cidadão tem direito aos serviços de continuidade do estado, pois o estado de direito é único e para todos. Desta forma, é preciso que o cidadão cuide do seu governo para que o governo não se torne autoritário, afinal, o governo em si é um agente social. O governo também precisa cuidar da sociedade, para que nenhum grupo específico de pessoas consiga crescer ao ponto de se tornar autoritário.

O principal interesse do Devir Social é que as relações de cuidado e negociação sejam feitas de maneira livre, e se isto não for possível, que seja feito através da licitude, ou seja, acompanhada do devido processo legal. Sem isto, a violência que deveria ser suficientemente grave no campo no campo da lei evolui a ponto de alcançar o físico, se materializando em criminalidade e mesmo em guerra. Também, é preciso verificar que todo ser humano deve ser respeitado diante a lei, isto por si só já é o suficiente para impedir casos de discriminação de paridades sociais. Esta discriminação acontece de um modo ou outro, independente de ser rotulada ou não. Contudo, é preciso que as paridades pensem em como desenvolver leis e comportamentos para cuidar de todos, inclusive dos seus pares. Se uma determinada classe social, detentora do poder econômico, por exemplo, não deseja dar espaço para outra crescer economicamente, é direito desta que tem vontade de crescer lutar por isso. Se não uma luta por meio dos agentes já detentores dos recursos econômicos, afinal estes são livres e não necessariamente são pares do grupo em questão, por meio do governo, que é par de todos.

Existem mais duas características importantes do sistema de paridade: ele é volátil e comporta a multiplicidade de pares. Ser volátil significa que uma pessoa que pertence a uma paridade pode, através de transformações sociais, pertencer a outra paridade. Afinal, viver é um constante processo de transformação. Alguns propositais, outros não. E sobre ser múltipla, essa característica é facilmente perceptível quando assumimos que o par de todo cidadão é o governo, mas que este mesmo cidadão pertence a uma cultura, economia e política específica, tendo paridade com outras pessoas de acordo com suas necessidades e vontade de atuação. Estas duas características são demais importantes, pois permitem que a diferença e a igualdade convivam em harmonia e em resposta aos elementos voláteis e constantes de cada configuração regional. Cada indivíduo será responsável por cuidar dos seus pares, e isto será feito de modo consciente, não através sistematizações políticas e educacionais ocultas, sem o processo lícito de modo a beneficiar um específico de pessoas sem que o grupo prejudicado seja advertido para que possa reagir. Se não for possível a negociação aberta, que seja possível a negociação lícita.

O sistema de paridade é, além de um dispositivo político-jurídico, um constante alerta a toda a população sobre a responsabilidade de cuidar do próximo e também de si mesmo. Entramos agora em um novo aspecto sobre o sistema de paridade: seu caráter jurídico e utilização no sistema jurídico. O direito já conhece, pelo menos em parte, algumas das propriedades de um tribunal de júri, que é invocado em crimes diretamente ligados com o viver e a violência humana. Ora, percebamos, através desta utilização, embora mal aproveitada segundo a percepção do Devir, que o direito já entende que quem acusa, defende, julga, sentencia e recorre são pessoas. Não existe na lei ou em nenhum outro dispositivo criado pela humanidade a característica de ser capaz de comportar a evolução e a dinâmica do viver humano. Portanto, é essencialmente necessário que humanos averiguem e julguem outros humanos. Também é essencial que isto se faça nos termos da lei, para evitar que a construção social feita em torno dela não seja desvirtuada, corrompida, aparelhada por interesses que não os da continuidade e etc.

“A lei, como já foi dito antes, se torna um objeto de impessoalidade. É a forma que um pensamento ou um comportamento de uma pessoa possa ser reproduzido e utilizado no meio de pessoas que sequer a conhecem pessoalmente. E o objetivo das pessoas que recorrem à utilização da lei como forma de tratamento entre seus pares é utilizar algum instrumento que tem credibilidade ou respeito por ambas as partes para resolver um conflito que elas mesmas não conseguem resolver através da sua liberdade de negociação. Desta forma, é sempre interessante que quem faça as leis observe a linguagem que será utilizada, e quando determinado público não entender tal linguagem, que se utilize do governo como agente confiável e responsável pela continuação como tradutor ou que se disponibilize os meios necessários para que os agentes do conflito possam obter a experiência necessária para ser capaz de compreender os termos ali descritos.”

Ora, colocar tamanha responsabilidade e poder de julgamento na mão só de um juiz é arriscado e também uma concentração de poder. Este juiz pode ser poderoso demais para não ligar e não querer perder sua energia analisando tal caso, como também pode ser fraco demais a ponto de sentir ameaçado por aquele que ele irá condenar de acordo com seu julgamento. Portanto, o tribunal do júri se torna um elemento necessário e essencial para qualquer crime: os pares terão a vontade necessária para analisar os crimes de modo satisfatório como também terão a defesa necessária para se proteger, caso haja algum tipo de retaliação. O tribunal do Júri, na opinião do Devir, é pouco desenvolvido judicialmente, sendo apenas utilizado para casos hediondos ou em casos especiais e específicos. A pergunta que o Devir agora pretende responder é: como fazer um melhor uso do sistema de paridade?

“Os pares cuidam dos pares” se torna, neste caso, “os pares julgam os pares”. Desta forma, o trabalho do judiciário deixará de ser julgar e passará a ser organizar e aplicar toda a estrutura de paridade social no tribunal de forma justiça e mediar o julgamento para que ele ocorra conforme a lei. A começar pela análise do caráter do crime: a quais paridades este crime afeta? Se for a apenas uma, que necessariamente é a paridade que o sujeito do crime pertence, será montado um tribunal homogêneo, apenas preenchido com seus pares. Neste caso, é fácil pensar que isto seria injusto, já que aquelas pessoas são pares a ele e, portanto, irão enviesar seu julgamento por este motivo. Mas isto não se sustenta, tanto porque a própria paridade está interessada no bom-funcionamento das características que a definem, de modo que um crime a isso seria um crime contra seus próprios interesses, como também porque o tribunal é montado de forma justa, e isto inclui o devido distanciamento do acusado pelo crime.

Caso o crime atinja mais paridades, a do criminoso e outra, por exemplo, deverá haver um tribunal de júri misto. Este tribunal precisa ser justo, de modo que todas as paridades ali presentes sejam, também, pares entre si. Por exemplo, em uma batalha clássica de trabalhador contra empresário, um tribunal de júri aceitável implicaria em mais trabalhadores que empresários quantitativamente, já que esta é a realidade da sociedade e também os empresários costumam ser economicamente mais poderosos que os trabalhadores, e o aumento do número de trabalhadores implica em uma maior dificuldade em ameaças ou corrupção a quem dará seu voto. A intenção disto é distribuir a responsabilidade do voto de modo a cada um ter o interesse em votar de acordo com a consciência e também não ter medo de possíveis represarias. Contudo, como elas são pares entre si, o peso da decisão das duas é igual, de modo que a soma de todos da classe de trabalhador dá 50% do veredito, e a soma da classe do operário também dá 50%. Este princípio pode ser induzido para tanto quanto for o número de paridades envolvidas no crime.

Outra característica interessante deste tipo de formação do júri é a possibilidade de maior análise por meio do legislativo. Uma decisão polarizada, por exemplo, aonde haja uma divergência muito grande entre as paridades do júri demonstra um espaço que merece a atenção dos legisladores, sendo este um indicativo muito grande de conflito entre as classes. Diferente, entretanto, de uma decisão também acirrada, mas de forma distribuída entre os júris. Neste caso, é possível interpretar que, ou o caso é realmente complicado para julgar, ou alguma etapa do processo poderia ser aprimorada.  Também, a própria decisão do tribunal do júri irá ter repercussão nas paridades. Afinal, não foi uma pessoa alheia ao cotidiano deles que tomou a decisão, mas sim uma pessoa que é semelhante por qualquer processo de formação ou atuação que seja. Esta repercussão será de primordial importância para trazer o cidadão a cuidar da democracia, tanto para entender a importância da lei como também para se sentir parte do processo judiciário e ético. Afinal, o julgamento, por meio do júri, se torna também um instrumento conscientização e responsabilidade democrática.

Existem algumas características do tribunal do júri que são importantes serem listadas, para que percebamos o quão poderoso este dispositivo é para o combate da terceirização da responsabilidade. Algumas propriedades já foram ditas acima, mas vou repeti-las. Segue:

- Regulagem e distribuição do poder de violência do réu, juiz, júri e acusador: de modo que as chances que algum destes faça um julgamento por meio de intimidação ou corrupção sejam diluídas a ponto de se tornarem desprezíveis.
- Autorreferenciação de julgamento: as chances de empatia com o próximo aumenta de acordo com o quão próximo ele for de você. Desta forma, o júri por paridade coloca o julgador numa posição direta de ser ele quem poderá estar naquele lugar um dia. Isto implica uma maior chance dele valorizar os princípios morais desenvolvidos por ele e seus pares de acordo com sua atuação, o que também fará o julgamento ser mais justo.
- Maior eficiência da moral: como escrito em um dos artigos do Devir, moral é o comportamento médio de um indivíduo que ele acredita que funciona. Quando exposto a casos de crime, se o crime não for julgado de acordo com a moral e a justiça, é possível que aquela pessoa esteja colaborando para a deterioração do próprio ambiente que ela convive com seus pares.  Isto é algo que vai da própria consciência dela, mas é boa a chance da maior parte do público se preocupe com seu cotidiano e deseje fazer um julgamento através da sua moral.
- Maior aproximação das paridades com o sistema político: além de jurídico, legislativo. Entender como funcionam as leis e ver que não é algo que um cidadão não possa interver e cobrar.  Desta forma, haverá um aumento da credibilidade, senso de importância e experiência da população em geral, já que também haverá um grande aumento de participações do júri, com relação às leis e aos poderes do governo. Ainda, o legislativo terá mais informações para desenvolver e aprimorar as leis, tornando todo o processo mais eficiente e satisfatório para a população.
- O julgamento do júri é soberano: de forma que o que for resolvido no tribunal, não possa ser recorrido. Isto irá dar uma enorme celeridade aos processos judiciais, já que a utilização da tática da inserção de uma enorme quantidade de recursos por parte da defesa será inviabilizada ou enfraquecida. Mesmo que um processo envolvendo júri demore mais pra ser organizado e em tempo de duração, espera-se que a decisão cause mais impacto social e seja definitiva, o que de certo irá ser um benefício quando comparada à farra dos recursos que acontece atualmente.
- O tribunal do júri deverá ser lícito: isto significa que deve haver um processo legal que forme o tribunal de modo à prevenir casos que beneficiem especificamente algum envolvido no julgamento.  De modo que, por exemplo: a lista de elegíveis ao júri deva ser estar feita antes do crime; desta lista haverá uma escolha por meio de algum sistema aleatório; as pessoas devem saber que júri ela irá julgá-la caso cometa um crime de determinada ordem; a proporção do júri deve ser adequadamente ajustada; entre outros.

Com o tribunal do Júri, o Devir Social espera que a distribuição de responsabilidade do sistema judiciário seja dividida para a população, sendo assim mais uma porta para que a população assuma a responsabilidade e a experiência do viver social para si. Além disto, a reforma do sistema jurídico é algo de fundamental importância para a reestruturação social, pois em sua situação atual, a população se sente desamparada e não tem nenhuma credibilidade por um dos três importantes poderes reguladores do estado.  Já que os três poderes serem conectados e complementares, é possível supor que a melhoria da participação no jurídico irá também fazê-la compreender a importância de participar dos demais, sem contar que o próprio Devir contempla soluções que pretende impactá-los. Com isto, finalizo este artigo. Um abraço a todos e até a próxima.

Link para facebook: https://www.facebook.com/DevirSocial/posts/572781146256245

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Uma análise dos agentes comunicativos segundo a perspectiva do Devir Social

Neste texto, faremos uma análise dos agentes comunicativos segundo a perspectiva do Devir Social. Isto significa que buscaremos analisar a importância e a atuação destes num cenário em que o ser humano terceiriza sua responsabilidade e as consequências para o viver humano. Inicialmente, precisamos entender o porquê da utilização do termo “agentes”. Meio de comunicação é tudo aquilo que os seres humanos utilizam para se comunicar: o ar, a internet, a luz, as escrituras, etc. Agentes comunicativos, por sua vez, são pessoas que utilizam os meios de comunicação para comunicar aquilo que elas percebem da realidade. Contudo, como agentes, sua percepção também é alterada por suas condições, por sua atuação, por seu ponto de vista. Eles precisam sobreviver e atuar para continuarem a ser o que se propuseram a ser, e isto pode se tornar uma aberração num cenário aonde eles não encontram formas dignas de atuação.

Entendido isto, agora vejamos a atuação dos agentes de comunicação num cenário aonde haja a terceirização da responsabilidade. Nele, as pessoas não estão interessadas em cuidar do que elas devem cuidar, estão interessadas em solucionar as coisas da maneira mais fácil e isenta de responsabilidade possível. Isto diminui a importância que eles dão à informação na sua forma mais verídica possível, portanto, desestimula a aquele que quer comunicar de fazer esta investigação. Além disto, em volta do agente comunicativo existem outros agentes igualmente ou mais poderosos que ele, como agentes políticos, do setor privado ou mesmo criminosos, que tem um especial interesse na vinculação ou não vinculação de algum tipo de informação, em algum formato específico. Neste cenário, o que acontece com o agente de comunicação?

Ora, mesmo que ele tenha o genuíno desejo de comunicar aquilo que eles acreditam ser a verdade por motivos morais de funcionamento da sociedade, esta vontade não encontra meios de se sustentar socialmente, afinal, eles não conseguem nem vender e nem agradar aos poderosos agentes sociais, sendo a verdade aqui considerada um instrumento de conscientização e transformação que aqueles que estão vivos possuem. Portanto, inicia-se aqui uma corrida dos agentes sociais para saber quais deles conseguem dominar os maiores agentes comunicativos, já que estes começam a atuar tão somente pelo lucro e por sua própria sobrevivência. Portanto, os agentes comunicativos começam a atuar de maneira a chamar a atenção do público por informações imprecisas, mas sensacionalistas, de modo a vender, ou vincular determinada informação específica de um agente que pagará por isso, por um benefício maior no futuro, que não necessariamente é o beneficio da maioria da população.

Como efeito, a população, que já atua somente em casos específicos e raros começa a entrar em um estado de desinformação total. Afinal, cada agente comunicativo vincula um pouco do que realmente está acontecendo para ganhar a credibilidade necessária, para então comunicar o que realmente irá garantir seu sustento, que são as notícias maquiadas para serem escandalosas ou até mesmo mentirosas, por interesse de algum grupo social ou de própria sobrevivência deste agente comunicativo. Entra-se, portanto, num estado de histeria, aonde todo mundo pensa estar informado, mas estão, na verdade, cheios de informação sem valor algum. Informação que não gera maiores atitudes que comentários e reclamações, que sequer viram denúncias. Em especial, os agentes políticos também precisam se apoderar deste cenário para garantir sua sobrevivência, já que o voto, por ser uma coisa tão simples e poderosa ao mesmo tempo, se torna uma importante mecânica no jogo de poder.

É justamente este jogo de poder, construído através da terceirização da responsabilidade, que quem tem mais poder continua a investir nos mecanismos necessários para continuar com seu poder. Por exemplo: um político que compra alguma mídia especifica apenas para falar bem dele, ou que compra algum servidor público de modo a fornecer informações imprecisas e que não são revisadas por ninguém, já que ninguém tem interesse no que realmente acontece, apenas no que aparenta acontecer. Este é um cenário de histeria perigoso, pois pode formar grupos que não acreditam em uma fonte única de informação, de modo a estabelecer lados que pensam ser os únicos corretos, pois estes estão submetidos apenas ao seu próprio ponto de vista da realidade. Quando isto acontece, quem é se acha o correto quer fazer o certo reinar, mesmo que precise utilizar de violência para tanto.

Vejamos, por outro lado, o que aconteceria caso a população tomasse sua responsabilidade naquilo que é público: a primeira e imediata consequência é uma enorme diminuição do poder político. Através da diminuição do poder político, há um aumento do poder dos agentes comunicativos, que passariam a ter como principal interesse sua própria sobrevivência autônoma. Também, pessoas que são responsáveis estão interessadas em fazer as coisas funcionar, e por desejarem fazer as coisas funcionar, a importância que elas dão à realidade se torna maior, e também elas estarão mais atentas aos erros que os agentes sociais, independente se eles são políticos, empresários, criminosos, ou da própria comunicação, podem cometer, pois elas mesmas são agentes sociais. Isto aumenta o interesse por informações verificadas e desestimula o interesse por informações sensacionalistas. Neste cenário, os agentes comunicativos encontram um modo completamente novo de atuação, em que eles possam sobreviver de acordo com seus princípios morais.

Para finalizar, um exemplo de como a falta de responsabilidade assombra nossa sociedade e aumenta o consumo de notícias sensacionalistas: imaginemos um trabalhador cuja principal responsabilidade é executar um serviço previamente estabelecido a ele. Ele não é responsável por criar, por pensar, por errar ou acertar. Seu erro ou acerto é simplesmente a sua capacidade de seguir ou não as regras preestabelecidas, ou ainda a capacidade de burlá-las. Assim ele se sustenta, chega em casa e também não lida com mais nada, pois tudo mais que precisa, ele compra com o dinheiro ganho em sua atividade profissional. Deste modo, qual visão uma pessoa como esta teria sobre o mundo? Qual o interesse de consumo de informação ela teria? Ora, a de saber ou não se as outras pessoas são capazes de cumprir aquilo que se espera delas, e unicamente isso.

É neste cenário que o sensacionalismo reina. Não se entende o valor da criação, mas sim da replicação de comportamento. E quando esta replicação não dá certo, se torna um caso de interesse para aqueles que costumam replicar. Contudo, infelizmente, o teor daquilo que se replica se torna cada vez mais degradante a menos que aqueles que buscam criar coisas novas também estejam interessados e fortes em sua atuação social. Num cenário de terceirização de responsabilidade, apenas pessoas com fortes cargos de liderança são incumbidas deste processo, o que gera, também, a concentração de responsabilidade, de renda, e a maior facilidade para a corrupção por toda sociedade.

O que o Devir Social espera é, um dia, ser capaz de desenvolver uma plataforma tecnológica e cultural capaz de redistribuir essa responsabilidade, ao menos de cuidar da democracia, para também as pessoas comuns, para que todos possam ser responsáveis pelo cuidado do que é público, possam utilizar sua criatividade para resolver os problemas que estes cuidados vão gerar, aprendam a lidar com as pessoas e ainda entendam, pelo menos um pouco, o árduo processo das lideranças criativas da nossa sociedade, diminuindo a sobrecarga de responsabilidade delas. Lembrar sempre que quem cuida de humanos são os próprios seres humanos. Assim finalizamos mais este texto. Um abraço a todos.

PS: é interessante notar que existem revistas especializadas em alguns setores da indústria muito bem fundamentadas, que muitas vezes não alcançam a visão do grande público. Estas revistas representam um mercado de nicho, de pessoas realmente interessadas na informação por estarem diretamente ligadas ao processo criativo de seus ramos. Ao contrário da mídia sensacionalista que impera atualmente na nossa sociedade, aonde a informação é moldada de modo a causar mais impacto, e uma vez que se descubra uma fonte de informação realmente impactante, esgotam-na até as informações se tornarem repetitivas e o público perder o interesse. No fim das contas, os agentes comunicativos parecem ser um reflexo do público ao qual eles estão atuando, e isto é uma interessante fonte de análise.

Link do facebook: https://www.facebook.com/DevirSocial/posts/560901640777529?pnref=story

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Função social da violência para o Devir Social

Podemos definir a violência como o uso da força para a quebra de um sistema previamente estabelecido. A violência física, por exemplo, danifica os sistemas corporais e causa risco ao viver humano. A violência verbal danifica a imagem social de uma pessoa, associando-a com coisas negativas e também prejudicando seu viver. A violência das leis é ignorá-las e fazer aquilo que se quer, tendo como consequência a abertura para outras violências e a não contemplação dos objetivos pelo qual aquela lei foi produzida. A violência da verdade é a mentira. A violência nunca é desejada pelos agentes vivos, traz danos inesperados, nem sempre é efetiva, costuma ser acompanhada por respostas também violentas e mesmo pode trazer a morte, então porque ela acontece?

A maior característica de todo ser vivo é querer estar satisfeito com sua vida. Para tanto, ele desenvolve leis, sistemas, regras de comportamento, e tudo mais necessário para que a vida se torne previsível e confortável, para que as coisas possam ser feitas às claras, sem o uso de violência e através da verdade. Se ele está insatisfeito com alguma coisa, ele irá utilizar todos os recursos a sua disposição para modificar aquilo até sua satisfação ser alcançada, são exemplos destes recursos: o diálogo, a negociação, a espera e a justiça. Porém, o que ele irá fazer quando ele acreditar que nada mais poderá trazer sua satisfação além da violência?

Ora, na maioria dos casos ela irá violentar. Percebam que a maior violência que todo ser vivo pode cometer é tirar sua própria vida, pois isto implica em não acreditar na própria existência. Se uma pessoa está insatisfeita o suficiente a ponto de desejar utilizar a violência em busca da satisfação, ela irá buscar aonde aplicar sua violência antes de tirar sua própria vida. Durante seu processo de busca, ela irá buscar o alvo aonde acredita que, com o uso da sua violência, seja capaz de trazer algum benefício para si e para seus semelhantes. Deste modo, todos os insatisfeitos são potenciais agentes violentadores e quanto maior a insatisfação, maior a vontade de sacrificar a própria vida em busca da mudança. Porém, há outro fator que regula esta relação: o quanto uma pessoa acredita que a mudança irá trazer satisfação para si e seus semelhantes.

Isto é fácil notar através da percepção que existem pessoas que passam a maior parte da vida insatisfeitas, com vontade de sacrificarem-se por uma causa nobre, mas sem capacidade de utilizar este potencial de violência por não acreditar em nenhuma mudança que lhes é apresentada. Já outras, embora não sejam tão insatisfeitas assim, acreditam fortemente em uma mecânica de mudança apresentada ou criada por elas, de modo que passam a violentar o que existe, mesmo sem estar disposto a sacrificar sua própria vida para dar origem a aquilo que elas acreditam. A violência, neste ponto, se torna um mecanismo de negociação no nível mais profundo do viver para instalação de novos comportamentos quando estes não conseguem encontrar outras vias para se instalarem.

Durante um processo de negociação violento, os agentes que assumem este papel devem estar cientes da responsabilidade e do risco de uso. Por exemplo, a polícia, na maioria das sociedades, tem como função vigiar seus cidadãos para que eles não utilizem de violência física ou infração de leis para ganhar vantagens ou lutar pelo que se acredita. Contudo, se o próprio sistema não dá ao cidadão um meio legal para ele alcançar o que ele acredita, ele irá utilizar a violência para tanto. Será dele a responsabilidade de se arriscar contra aquele sistema, que de imediato acionará a polícia. A polícia cumprirá sua função social, que é conter a violência. Afinal, a transformação acreditada por aquela violência pode ser realmente benéfica, mas não há como saber antes que a transformação realmente tenha ocorrido.

Um exemplo prático: numa cidade o sistema político está muito lento por preguiça de seus administradores. Nesta cidade, também, há um hospital publico cujos médicos não estão atendendo. Um determinado morador tentou utilizar todas as vias possíveis para que esta situação seja regularizada, mas nada foi feito. A população indignada que precisou daquele hospital é convocada por esse cidadão para protestar por vias legais. Mas este tipo de protesto não prevê nenhum prejuízo para ninguém e passa despercebido por todos. Por fim, este cidadão tem a opção de utilizar a violência para alcançar seus objetivos.

Resolve parar o transito daquela cidade e assim gera um desconforto que prejudica a prefeitura.  Esta, que antes não se preocupava com aquela pequena causa, se vê obrigada a negociar, caso contrário ele não para. A polícia logo se prontifica para capturá-lo, mas ele e seu grupo conseguem fugir de todos os protocolos de violência da polícia. Ora, um dia eles não vão conseguir, pois a polícia irá estabelecer novos protocolos para capturá-los, mas durante esse processo de negociação, quem irá ceder primeiro? Ele e seu grupo podem se cansar de correr perigo durante suas fugas da polícia, ou a prefeitura pode se cansar de ser prejudicada pelo transito parado. Notem que em ambos os casos, o que encerra esta negociação é um elemento humano, e mesmo animal, que é o cansaço.

Esta é a função social que o Devir Social entende para a violência. Com este exemplo, é fácil entender o porquê é tão importante respeitar todos os mecanismos lícitos de mudanças sociais já desenvolvidos, além de criar novos. Afinal, na maioria dos casos não será uma negociação simples, pois haverá duas ou mais partes que acreditam em coisas diferentes, e não existe a clara percepção de qual é a melhor. O que o Devir espera é que alcancemos, ao menos, um nível de desenvolvimento social em que uma violência preocupante seja, por exemplo, a violação de um lei e não perda de uma vida. Contudo, não é difícil encontrar sistemas sociais atualmente em que muitas vidas são perdidas, leis ignoradas e pouco se faz de realmente novo para que a situação seja resolvida. 

Quando uma pessoa rouba, ela está cometendo uma violência e também uma transformação social, mas a pergunta é: o que levou ela a acreditar naquilo como a sociedade que ela deseja para si? Quando uma pessoa violenta fisicamente outra, é porque aquela outra faz algo que ela desaprova, mas a pergunta é: porque ela não utiliza outros recursos, como diálogo ou negociação, para mudar o que aquela pessoa faz, ao invés de usar a violência? E aqueles que faltam com a verdade ou se entregam a corrupção, ferindo a verdade e as leis do seu país, por que o fazem? Não seria melhor para elas buscar outros meios para alcançar sua satisfação?

Existem casos extremamente complicados, que é preciso que a justiça intervenha com seu poder de multar ou mesmo restringir a liberdade para que a violência não seja vista como um recurso a ser utilizado. No mais, esperamos que entendido a função da violência, as pessoas pensem muito bem antes de utilizá-la. Que aprendam a negociar, a dialogar, a utilizar os mecanismos criados por nossa sociedade ou sugiram a criação de novos para que a violência nunca seja o recurso a ser tomado.

A violência é o recurso mais animalesco que um sistema humano pode experimentar, e isto a torna imprevisível, pois nunca se sabe o quanto uma pessoa está disposta a sacrificar sua própria vida e a do próximo para alcançar o que acredita ou sua satisfação. Vide homens-bomba que sozinhos conseguem levar dezenas consigo. Em um estado de guerra, mesmo que ela seja interna, ninguém está a salvo da violência. Torna-se necessário lutar para contê-la não simplesmente através do seu uso puro, mas também de mecanismo que tragam satisfação para a sociedade.

Post no facebook: https://www.facebook.com/DevirSocial/posts/555723987961961

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

O conceito de ética e a moral para Devir Social

Durante muito tempo os conceitos de ética e moral eram confusos para mim. Contudo, durante os pensamentos sobre a atuação das pessoas quando a plataforma que planejamos para o Devir estiver pronta, eu me deparei com uma questão simples, porém profunda e exemplificativa do que o Devir Social passará a entender como moral e ética, dentro da sistemática do nosso pensamento.

A questão inicial foi a seguinte: dada que a plataforma estivesse toda pronta e com a cultura funcionando, o que aconteceria caso uma empresa pedisse para que seu candidato a emprego mostrasse o perfil dele no Devir? O desenvolvimento do perfil do nosso projeto tem como intuito tornar o perfil do indivíduo sigiloso para as empresas ou quaisquer outras entidades que tenha interesse em controlar o cidadão para unicamente seu próprio benefício. Se para aceitar um candidato a emprego a empresa exigir, informalmente, que ele mostre seu perfil, isto está claramente indo contra os interesses pelos quais desenvolvemos toda nossa infraestrutura. O que nós, do Devir Social, podemos fazer em relação a isso?

A resposta parece-nos um tanto simples: nada. Já estamos utilizando modernos conceitos de criptografia para assegurar a segurança e sigilo do cidadão.  Poderíamos, ainda, aplicar conceitos mais modernos ainda, mas não importa quão moderno forem estes conceitos, no final sobrará à relação entre seres humanos: o empresário e o candidato. Sobre isto nós não temos, nem nunca teremos o controle. Percebam, neste ponto, que é possível a existência de uma força que pode ou não impedir que o candidato aceite a proposta do empresário, e chamaremos agora esta força de moral.

Chegamos a um interessante ponto para estudar o funcionamento da moral, principalmente neste contexto adotado pelo Devir Social. Como estabelecer um sistema de moral e como saber se ele funciona ou deixa de funcionar? Para responder a esta questão, vamos pensar um pouco mais no cenário do empresário e candidato descrito anteriormente, e adicionaremos a suposição de que o Devir Social esteja funcionando adequadamente, causando todas as mudanças que ele se propõe a fazer e beneficiando a vida do cidadão comum.

O candidato poderá recusar a proposta do empresário, com o efeito de perder sua vaga. Porém, vejamos que o malefício causado pela perca da vaga é menor que o malefício causado por ceder às pressões do empresário e mostrar o perfil, pois com isto o projeto do Devir Social, pouco a pouco, começa se corroer. Contudo, se esta for uma prática de todos os empresários, o candidato não conseguirá emprego em canto nenhum. Neste ponto, os malefícios por não ceder à pressão dos empresários serão maiores que o benefício trazido pelo Devir Social. Passaremos agora para o cenário do empresário para ter uma visão completa da situação.

O empresário que se passa para pedir ao seu candidato que ele revele o seu perfil no Devir Social provavelmente tem interesse em gente corrupta no seu time, ou que ao menos nunca tenha feito nada contra sua empresa e aliados. Porém, se todos os seus candidatos recusarem-se a mostrar seus perfis no Devir Social, ele ficará sem opção e terá que contratar um funcionário baseando-se nos critérios normais de contratação. Além disto, cada vez que ele faz a proposta, ele corre o risco de ser pego e possivelmente receber represaria, seja pelo público ou mesmo da justiça.

Vejamos, portanto, que este é um processo de negociação que não envolve apenas um empresário ou um candidato, mas sim um conjunto de empresários e candidatos. É neste contexto que a moral entra como uma força atuante e reguladora das relações humanas, afinal, ela é o comportamento que os atuantes de um sistema esperam que traga mais benefícios para si, de acordo com o que ele pode perceber de como seus semelhantes e outras grupos sociais atuam e do que funciona ou não neste sistema.

No nosso contexto, existem três grupos: o Devir, que beneficia aos candidatos, é neutro aos empresários honestos, os candidatos, que podem ter uma pequena vantagem ao degradar o Devir para os empresários que não são honestos, mas também tem vantagem do Devir, e os empresários, que acabam sendo vez ou outra prejudicados pelo Devir se forem desonestos e se beneficiariam caso o Devir não existisse. A moral aqui, portanto, é a força que regula o qual atitude um indivíduo enfrentará diante de um dilema, e é calibrada de acordo com os benefícios e malefícios que ele espera para si e para aqueles que atuam no mesmo sistema que ele.

Através deste conceito, é possível que façamos uma relação entre os benefícios trazidos pelo Devir Social, os benefícios trazidos pelos empresários desonestos, e o discurso moral dos candidatos, para saber como anda a calibragem da moral nesta dinâmica social. De antemão, torna-se claro que um comportamento que a princípio vai contra a moral das pessoas, como roubar, passa a ser considerado dentro da moral delas, caso quem roube não saia no prejuízo, de alguma forma, mesmo que sendo também roubado. É isto o que explica um grupo de ladrões serem honestos entre si, mas desonestos com os diferentes.

O funcionamento da moral está diretamente ligado ao que ela acredita funcionar para a sociedade, e quando este algo deixa de funcionar, a moral se transforma de modo a se adequar a nova realidade social. Isto nos leva a perceber o quanto importante é a inovação para a manutenção da moral: quanto melhor um sistema funcionar, mais as pessoas vão ter um senso moral mais humanizado. Percebemos, também, que é importante que as pessoas que se preocupam com a lei avançarem mais em suas tecnologias que as pessoas interessadas na transgressão da lei, pois isto garantirá uma calibragem humanizada da moral. Aqui, inclusive, podemos inserir o conceito do espaço vazio.

Começamos agora a entender a formação de grupos políticos, no sentindo de organização pura da coisa, quando a sociedade começa a perder o ser humano como seu principal objetivo de funcionamento. Por exemplo: em uma sociedade em que a figura do ser humano é valorizada, matar é errado não importa a quem. Porém, quando o ser humano começa a ser desvalorizado, torna-se normal matar certo grupo de humanos, como bandidos rivais ou criminosos. Neste caso, existe algo que está sendo mais valorizado que o ser humano: não se acredita que o ser humano funcione, mas sim o sistema a qual ele faz parte. Outro excelente exemplo é o estado de um país. No seu estado normal, matar é errado, mas em estado de guerra, matar o inimigo torna-se comum.

É interessante aqui esclarecer que o Devir Social pretende ser um movimento humanista. Nossa maior valorização é o ser humano, e acreditamos que a morte nunca é a resposta, mas sim a inovação tecnológica, o testemunho, o aprendizado, a recuperação. Esperamos um dia avançar nossa sociedade ao ponto em que ela consiga fazer bom uso da natureza também, ao ponto de perceber o que é vivo como seu semelhante. Mas, o que podemos fazer agora é projetar apenas o que acreditamos ser o próximo passo. Com isto encerramos a moral, que é um comportamento de calibragem individual, e passamos para a ética. O que significará a ética para o Devir Social?

O Devir Social entendeu a ética como a moral de uma empresa. Ora, se a moral é algo individual, e uma empresa é um conjunto de indivíduos, cada indivíduo tem sua própria moral. Mas seguindo o raciocínio anterior, existe um comportamento médio que se torna benéfica para aquela empresa, seja para a sua credibilidade, eficiência de atuação, organização interna. Este comportamento nós chamaremos de ética. Como anteriormente estabelecemos, o governo é a empresa responsável pelo processo de continuidade, neste sentido, a ética cidadã existe. Cada empresa também pode ter seu próprio conjunto ético, aonde todos possam compreender seus princípios para fazer a atuação daquela empresa bem fundamentada e harmonizar seu convívio social.

A ética não é o direito. O direito é uma instituição humana com poderes de atuação. Uma empresa pode ter seu próprio direito interno, o conjunto de regras que contempla deveres e punições para cada funcionário. Mas isto não é a ética. A ética tem função de aconselhar, direcionar, guiar. O direito tem função de fazer funcionar o presente. Já a ética, o futuro. Isto pode ser percebido através de uma analogia com a moral: uma pessoa que faz um ato que para ela é imoral pode ou não ser prejudicada, mas no fundo ela sabe aquilo está correndo perigo, pois ela pode sofrer as consequências mesmo sem saber quando, seja através da justiça ou de outras formas, como um conjugue que traí seu parceiro.

O Devir Social, neste sentido, pretenderá construir sua própria ética de funcionamento para esclarecer a todos como acreditamos ser o melhor modo de funcionar para alcançarmos com mais eficiência e segurança nosso objetivo. A quem quiser agir diferente, é livre para tanto, mas será responsável pelas consequências caso elas ocorram, no âmbito judicial, por exemplo. Se a pessoa seguir a nossa ética, provavelmente ela não sofrerá consequências. Em um caso ou outro, sempre estaremos interessados em acompanhar nossos usuários, para apoiá-los e aprender com eles. A construção da ética do Devir Social se fará através do seu funcionamento, portanto, um dia isto entrará como postagem no nosso blog. Com isto, encerramos este tema. Um abraço a todos e até a próxima postagem.

Postagem no facebook:
https://www.facebook.com/DevirSocial/posts/553030681564625

sábado, 3 de setembro de 2016

Devir Social e sua aplicação na economia, parte 3 de 3

Mudanças nos comportamentos: assistência social.

A assistência social é algo muito comum em lugares aonde reina a pobreza. Contudo, o Devir Social enxerga um problema em muitas dos movimentos de assistencialismo social: eles parecem tratar o povo como uns coitados, que precisam de ajuda, de um herói, e não são capazes de crescer sozinho. O pior efeito deste tratamento é quando o próprio povo acredita nisto, gerando o que o Devir Social já apontou em seu manifesto constituinte como Terceirização da Responsabilidade. A questão é que, nas relações humanas, não existe herói, vitima ou mocinho. São todos seres humanos, todos tem alguma responsabilidade, mesmo que desprezível, em qualquer coisa que aconteça em nosso ambiente porque somos todos conectados por ele. Portanto, uma vez que se permita a terceirização da responsabilidade, se permite também que o povo se torne massa de manobra, servindo como alavanca político-econômica para pessoas que não estão realmente preocupadas com o povo, mas sim com seu poder.

E qual é o poder do povo, afinal? Na democracia, este poder é o voto. Porém, além do voto, o povo tem uma força pura, animalesca, da qual quaisquer seres humanos que tentam dominar através da inteligência e do distanciamento do viver humano teme, que é a violência. O estado previne-se, através de seus militares, para quaisquer eventuais atos de violência partidos do povo, contudo, um povo unido e com vontade de lutar por algo é imbatível. Afinal, não faz sentindo matar e prender todo o povo, porque é ele que sustenta os militares, os políticos e afins. Por isso, o Devir Social acredita que é preciso que se mude o jeito de se fazer assistencialismo social.

O dever daqueles que podem fazer alguma coisa não é ajudar, mas ensinar e dar condições para que o próximo possa fazer por conta própria. Quem está na condição de precisar de ajuda, assim está por processos históricos ou por erros pessoas, mas quem ajuda também tem o que aprender e a se beneficiar com a melhoria do próximo. Não é uma relação de quem ajuda se sentir bem por estar sendo caridoso, mas sim de ajudar para ser ajudado, pois todos somos seres humanos, podemos precisar de ajuda e também temos a capacidade de ajudar. Se aquele que pode ajudar se negar, que o faça, mas será dele a responsabilidade quando, daquele que precisou de ajuda surgir uma força muito maior que antes não era necessária: a violência. Ou se espera mesmo que aquele que passa fome ou não consegue progredir na vida fique de braços cruzados, olhando todos felizes menos ele?

Novamente, lembramos que a relação humana é dupla: aquele que será ajudado também precisa querer ser ajudado. Neste sentindo, lembramos que toda relação humana é uma negociação. Se ele não quer ser ajudado, também que não seja violento. Lembramos também que ajudar ao próximo é uma responsabilidade. Não é algo para ser feito de qualquer jeito, e nem pensar que fazer de qualquer jeito trará sempre resultados positivos: quem quer ajudar, mas não o fizer do jeito correto, só fará atrapalhar tanto aqueles que querem ajudar quanto aqueles que estão recebendo a ajuda. Portanto, que seja sempre claro as responsabilidades daqueles que assumem a posição de ajuda ao próximo. Quanto mais pessoas estiverem produtivas em uma economia, mais ela será ativa e se focará no bem-estar que na contenção daquilo que não funciona. Afinal, pessoas em situações muito extremas podem deixar-se ser consumidas por drogas ou outros vícios destrutivos por falta de esperança no ser humano.

Há também o perigo de uma estrutura de assistencialismo social ser utilizada como ferramenta de manobra por políticos ou quem queira assumir algum tipo de poder de forma indireta. Neste sentindo, elas se corrompem, pois embora aquele que ajuda diga que está lá para ajudar, sua real intenção é fazer um investimento para ganhar mais no futuro. Uma vez no poder que ele desejou, sua preocupação não será fazer aquilo que deve ser feito para continuar ajudando, mas sim apenas manter as aparências e atuar naquilo que ele realmente quer de forma sorrateira e ilegal. Há, inclusive, possibilidade dos políticos financiarem voluntários, que muitas vezes estão ali apenas para manter a aparência de trabalho e arrecadar votos para eles. Isto porque não estamos falando de desvio ou superfaturamento de ajuda, coisas que podem acontecer internamente se as pessoas que se envolvem genuinamente com o movimento não se preocupam em fiscalizá-lo. Portanto, assistencialismo social é algo muito sério. Não deve ser feito por qualquer um e sem responsabilidade.

Mas, afinal, de quem é verdadeiramente a responsabilidade de ajudar aos que precisam, se não do governo? Ele não é a entidade responsável pelo processo de continuidade? Portanto, não seria teoricamente redundante ter instituições fixas de assistencialismo social? Por ser a entidade responsável pelo processo de continuidade, é responsabilidade do governo prover todos os recursos necessários para o cidadão ter o mínimo necessário para poder iniciar seu processo de recuperação ou inicio de crescimento, para assim viver sua vida com o mínimo de dignidade e chances de crescer. Para tanto, novamente alertando, é preciso que o indivíduo também reconheça seus erros, sua história e esteja disposto a aceitar a ajuda e dar inicio à sua recuperação, estado que nem sempre é simples de alcançar.

Porém, não é isto o que acontece num governo confuso e corrompido. Ainda mais, numa cultura que usa o assistencialismo social para se promover e receber votos, é previsto apenas a continuidade desta cultura, que precisa de pobres para continuar. Portanto, o que o Devir Social espera que aconteça é que, tanto os pobres tenham a noção da sua força quanto àqueles que querem ajudar entendam a responsabilidade do que estão fazendo. Afinal, com um estado democrático de direito perfeitamente atuante, as pessoas sequer precisariam se preocupar com um sistema fixo de assistencialismo. A ajuda social ocorreria apenas para suprir demandas as quais o governo não teria tempo para se preparar e lidar adequadamente. Portanto, cabe a reflexão no final deste texto: que tipo de atitude é possível tomar para prover um real processo de recuperação, ao invés apenas de manter o assistencialismo social como um recurso de subida de poder?

Um último detalhe: toda e qualquer ação do governo sempre será mais lenta que ações de iniciativa privada. Isto porque o governo todo o governo só realiza uma atitude após seus mecanismos de aprovação social terem tempo de analisar e decidir pelo sim ou não. É por isto que, em algumas constituições, existem estados de emergência: como os de guerra ou catástrofe, para que o próprio governo possa agir com mais velocidade. Com isto, encerramos esta série de artigos que misturou a visão do Devir Social sobre a economia. Gostaríamos de alertar a todos que o Devir Social ainda é um movimento teórico, mas que está buscando vivenciar tudo aquilo que ele prega para saber se seus princípios são realmente válidos ou não na realidade. Isto, o tempo e a troca de experiência entre todos aqueles que participam do projeto será capaz de responder. Um abraço a todos e até a próxima.

Parte 1: http://devirsocial.blogspot.com.br/2016/09/devir-social-e-sua-aplicacao-na.html

Devir Social e sua aplicação na economia, parte 2 de 3

Mudanças nos comportamentos: relação empresa-cliente.

Após concluirmos no texto anterior que quaisquer formas de pensamentos econômicos extremos desrespeita, segundo a visão do Devir Social, os valores estabelecidos na revolução francesa, trabalharemos agora com os pequenos comportamentos que ainda hoje são praticados na nossa sociedade. O objetivo desta analise é demonstrar as consequências destes pequenos comportamentos para a macroeconomia e também como o princípio defendido pelo Devir Social pode alterar estes comportamentos de uma forma benéfica para toda a população. Iniciaremos pensando na relação entre cliente e empresa, muito importante para nossa sociedade atualmente que vive em um contexto de globalização. Neste sentido, entenderemos o governo como uma empresa com prerrogativas especiais, por ser estabelecida através do voto e com a função de dar seguimento à continuidade social.

É muito comum pensar que a relação entre empresa e cliente é estabelecida somente através do vinculo de produção e consumo. Porém, o Devir Social gostaria de lembrar que, na prática, são seres humanos lidando com seres humanos. Na dimensão humana, não temos somente a relação do mecanismo social, empresa, com o mecanismo social, clientes. Temos a relação humana, e isto implica em uma série de coisas muito profundas. Em ultima estância, é possível perceber que o relacionamento humano evoca valores que até os próprios humanos desconhecem e muitas vezes atribuem à atuação divina. Dito isto, é preciso refletir se a relação entre cliente e empresa é tão simples quanto se diz. Se o cliente simplesmente deve procurar outra empresa caso aquela não esteja funcionando adequadamente, e se a empresa deve se preocupar apenas com o lucro em detrimento do entendimento do cliente sobre como ela funciona.

O capital é capaz de se mover com uma velocidade incrível, de modo a construir e destruir empresas em instantes. Neste sentido, se a relação entre cliente e empresa for muito fraca, aqueles que desejam acumular capital para deter maior poder sobre a sociedade sempre verá uma oportunidade de crescer através de mecanismos que funcionam em curto prazo, mesmo que em longo prazo eles sejam prejudiciais para a sociedade, são eles: o desenvolvimento sem visar à sustentação global; a venda de produtos com efeitos colaterais maquiados, escondidos ou prejudiciais em longo prazo por valores inferiores ao da concorrência com função semelhante, mas que combatem estes efeitos; falta de preocupação em longo prazo, na maioria dos casos, no local aonde atua, já que a preocupação primária é acumular capital para continuar acumulando capital, caso contrário vem outra empresa e toma seu lugar; utilização de mão de obra barata em um determinado nicho social para baratear a venda para outro nicho social, neste caso não devemos esquecer que a sociedade é conectada e a mão de obra barata vai resultar em pessoas insatisfeitas, sem capacidade de viver com dignidade e que, portanto, acham que é justo retribuir a sociedade na mesma moeda com assaltos, roubos e etc.

Desta forma, concluímos que, enquanto o relacionamento de empresa e cliente for fraco, a empresa que pensa em curto prazo sempre irá se beneficiar. Mesmo que essa empresa cometa crimes, a justiça não irá conseguir atuar na mesma velocidade que ela. No dia que ela for fechada, alguns dos seus proprietários serão punidos, mas surgirão mais algumas dezenas de pessoas inventando jeitos novos de enganar o consumidor e fazer uma sua empresa crescer através da mentira. Além do mais, mesmo os proprietários punidos, o que nem sempre é uma realidade, eles já vão ter acumulado capital o suficiente pra ter se transformar completamente em uma nova empresa na fachada, mas com a mesma intenção de crescer através de estratégias que funcionam em curto prazo, mas são deteriorantes sociais em longo prazo. E o empreendedor que se preocupa com a qualidade de vida do lugar aonde ele atua, onde que fica nesse contexto? É possível concluir que ele simplesmente não terá oportunidade para crescer. Afinal, se ele se preocupa com o impacto da sua atuação terá sempre uma condição que irá restringir sua capacidade de inovar e obter lucros na cultura imediatista que se apresenta agora.

Qual atitude o Devir Social espera da relação empresa e cliente? Que ela não seja tão frágil se pede que seja. Que, apenas uma pequena diferença de preço não faça um cliente migrar de um produto para outro. Porque não investigar um pouquinho mais sobre aquele diferencial no preço? Talvez seja alguma mecânica ilegal! Portanto, cabe ao cliente sentir e entender as pessoas que estão do outro lado da relação: elas realmente estão interessadas em fazer o que é melhor para todos ou só estão tentando crescer indevidamente? Ou são pessoas preguiçosas que herdaram a empresa e apenas querem manter-se bem na vida, sem querer inovar ou melhorar seu produto? Isto pode ser sim complicado, pois obviamente haverá pessoas mentiras querendo e construir uma imagem falsa, mas mais complicado será lidar com uma sociedade que ninguém sente prazer ou acredita naquilo que faz. Afinal, em toda relação humana também há mentiras e será o tempo o responsável por demonstrar quem mente ou fala a verdade. Assim, através do tempo, espera-se que o cliente mantenha relação de fidelidade com empresas que forneçam produtos importantes pra ele que vai além do preço e do bem-estar imediato.

Parte 3: http://devirsocial.blogspot.com.br/2016/09/devir-social-e-sua-aplicacao-na_20.html