O mercado de trabalho para quem não tem educação parece ser
bastante selvagem. Quem não aproveita bem as poucas chances que lhe são
oferecidas pode entrar num limbo de “só aceitamos que tem experiência”
que impossibilita seu crescimento pessoal. Também, aqueles que estão
empregados vivem sob o constante medo de perderem a empatia dos seus
chefes a ponto de serem despedidos por um descuido qualquer, de modo a
aceitarem, muitas vezes, situações que são indignas ao trabalhador. O
resultado disto é a constante crença de que, para alguém crescer na
vida, é preciso estudo. Estudo para cursar um ensino superior e
conseguir algum cargo elitizado, que dá condições do trabalhador
negociar com seus empregadores, ou estudo para obter os benefícios de um
cargo concursado, que tem garantias de estabilidade concedidas pelo
governo para evitar a negociação de cargos públicos.
De um modo ou outro, assumiu que a educação é o único caminho viável
para a diminuição da desigualdade do país. Contudo, o Devir Social
pergunta: que educação é essa que até hoje nunca chegou? Os concursos
públicos estão cada vez mais concorridos, e as vagas para profissionais
de ensino superior estão se vulgarizando ao ponto de terem condições de
trabalho semelhantes aos que não tem ensino superior, aceitando
condições impróprias e trabalhando em cima de ameaças. Ora, o Devir
Social conclui que, se o Brasil precisa de alguma educação, certamente
não é a educação científica tão extensamente administrada por vários
cursinhos técnicos que se proliferam pelo país. O governo Dilma, com seu
slogan “Pátria Educadora”, parece ter atentado para a necessidade de
educar como forma de diminuir a desigualdade econômica, e focou nessa
mesma educação formal. Mas será essa a única forma de educar que existe?
O Devir Social acredita que não. Mas, antes do Devir emitir sua
opinião, vamos nos questionar o que pode significar educar neste
contexto: existem inúmeras formas do ser humano agir, e cada tentativa
tem um custo inerente. Quem vai pagar esse custo, afinal? Se fosse
suposto que existe uma garantia de que a ação executada resultaria em
sucesso, certamente todos estariam dispostos a pagar em tempo e recursos
pelo desenvolvimento dessa ação, mas a verdade não é esta. Cada ação
nova é um passo rumo ao desconhecido, que pode ser ou não bem sucedido.
Com o fracasso, os custos entram para a história, para demonstrar qual
caminho não seguir. Com o sucesso, se segue a continuidade, formando um
conjunto de hábitos que caracterizam uma atividade social, como
política, engenharia, ciências, religião, etc. Sendo assim, educar é
transmitir este conjunto de hábitos bem-sucedidos ao próximo.
Portanto, através desta conceituação de educação, fica clara a resposta
de que existem muitas mais formas de educar, além da científica.
Portanto, por que não explorar outras áreas de educação, que não apenas a
científica? Mas uma pergunta que complementa a esta é: a quem interessa
estes processos de educação auxiliares? Em especial, a educação
política, que, segundo o Devir Social, deveria ser o foco da Pátria
Educadora? A princípio, imagina-se que o próprio cidadão será o
beneficiado em se educar nesta área, portanto, deveria vir dele o
interesse em arcar com os custos de aprendizado. Porém, a coisa não é
bem assim, quando observamos um estado político já bem desenvolvido e
intimidador para qualquer iniciante em política. O cidadão então se
sente frustrado em investir em tão bem administrado por outras pessoas
que não tem interesse em dividir seu conhecimento apenas pelo bem-estar
social, e ainda se movimenta para frustrar ainda mais as tentativas. A
política então passa a ser uma ilha, só acessível por aqueles que
conseguem ter poder o suficiente para adentrar nestas práticas ou pelos
filhos de quem já está dentro.
Sendo assim, a
função do estado em educar politicamente é completamente perdida. Por
mais que se tente envolver o cidadão com as práticas do cuidado público,
quem tem o interesse de manter o cidadão no cabresto da compra de votos
irá se articular para assim o fazer. O desafio de implementar a “pátria
educadora” forte o suficiente para diminuir as desigualdades sociais é
muito maior, de modo que não somente o conhecimento científico seja o
suficiente para tanto. Afinal, quantas são pessoas que dominam bem
sofisticadas técnicas científicas, mas perto da força política que
permite o bruto acumulo de dinheiro desonesto, nada podem fazer? Esta é
uma questão política, afinal de contas, e embora a ciência possa
auxiliar, só a política resolve. Só pessoas interessadas em desenvolver
instituições políticas fortes o suficiente para fazer o bem e se
contrapor a força das instituições que foram montadas para fazer o mal
pode resolver. Política, no final das contas, é a organização de forças,
seja para o bem como para o mal. Atualmente, aqui no Brasil, o mal,
formado por aqueles interessados na corrupção e na mentir, é mestre em
política.
Para o Devir Social, a importância do estado educador não para somente na conscientização política das pessoas: é uma necessidade para o funcionamento de um estado moderno. Isto porque, através da conscientização política, as pessoas vão passar a fiscalizar, a exigir, a se manobrar, negociar. Sem a devida educação, estes processos podem ser bastante conflituosos. Além do mais, a fiscalização é um difícil processo no campo ético, pois se não for bem feita, deixará os funcionários em posição de mal-estar, com medo de errar qualquer coisa e perderem seus empregos, como também poderá fazer com que pessoas hajam com uma autoridade que não é delas, quando, através da fiscalização, imaginam-se também no direito de definir os processos por quais o funcionário de má conduta passará para se reabilitar. Educar também faz parte do processo de recuperação social, outro aspecto do estado moderno que é objetivo do Devir Social alcançar. Um funcionário com má conduta deverá ter diversos mecanismos para se recuperar, aprimorar seu comportamento, negociar novos processos de trabalho, etc. Assim, fiscalizar deverá se tornar algo natural, sendo parte do processo de materialização da vontade popular que já foi explicados em um dos artigos deste blog.
Quais são as consequências de um povo
educado em política, finalmente? A distribuição de renda. Afinal,
através da consciência política, o planejamento para futuras áreas de
atuação brasileiras será melhor desenvolvido, de modo que não terá nem
tantas pessoas concorrendo a uma vaga de trabalho a ponto daquela função
se tornar desvalorizada, como haverá pessoas capazes de atuar naquela
vaga, não precisando importar mão de obra ou pagar muito por uma função
que não retorna tanto assim. Para aqueles que estão acostumados a ter
oferta de mão de obra barata e acumular seu capital em cima disto, assim
como aqueles que se beneficiam com a ignorância do povo para roubar do
governo, são notícias ruins. Afinal, a renda é uma quantia relativamente
fixa, e ela distribuída significa menos dinheiro acumulado na mão de
poucas pessoas. A vantagem, para todo o Brasil, é que com mais renda
sendo distribuída e maior produção, nossa produtividade, de um modo
geral, aumentará e muito a longo prazo. O Brasil é um país de energia e
qualidade de terras elevadíssimas em comparação a outros lugares do
mundo: temos muito potencial de crescimento.
O
Devir Social, com sua série de instituições para aumentar a participação
do cidadão nos meios públicos, acredita que esta é uma oportunidade
única para não somente aperfeiçoar a relação entre os três poderes como
também desenvolver uma via institucional de educação política para o
cidadão. Com isto, o governo realmente terá condições de atuar como um
“educador político”, não somente por interesses partidários, mas por
interesses à nível de organização da relação dos três poderes. Isto é
algo extremamente relevante, já que se cria uma unidade de harmonia
entre todos aqueles que tenham o interesse no bom funcionamento do
estado para resolver os conflitos pontuais e características individuais
que cada região e contexto histórico apresenta e que a força do livre
mercado sozinha não é capaz de resolver. Precisamos sim, de uma Pátria
Educadora, para resolver as desigualdades de atuação política e de
distribuição de responsabilidade neste país, e com isto, diminuir a
desigualdade social e econômica. Uma sociedade mais justa, através do
aprendizado e não da violência, é isto o que o Devir Social espera
alcançar através das suas reformas.
“Com o aumento
da mecanização do trabalho, o tempo livre resultante do trabalhador deve
se voltar a organização do seu bem-estar social. E a forma mais genuína
de organização é a política e suas instituições.”
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