quinta-feira, 22 de setembro de 2016

O conceito de ética e a moral para Devir Social

Durante muito tempo os conceitos de ética e moral eram confusos para mim. Contudo, durante os pensamentos sobre a atuação das pessoas quando a plataforma que planejamos para o Devir estiver pronta, eu me deparei com uma questão simples, porém profunda e exemplificativa do que o Devir Social passará a entender como moral e ética, dentro da sistemática do nosso pensamento.

A questão inicial foi a seguinte: dada que a plataforma estivesse toda pronta e com a cultura funcionando, o que aconteceria caso uma empresa pedisse para que seu candidato a emprego mostrasse o perfil dele no Devir? O desenvolvimento do perfil do nosso projeto tem como intuito tornar o perfil do indivíduo sigiloso para as empresas ou quaisquer outras entidades que tenha interesse em controlar o cidadão para unicamente seu próprio benefício. Se para aceitar um candidato a emprego a empresa exigir, informalmente, que ele mostre seu perfil, isto está claramente indo contra os interesses pelos quais desenvolvemos toda nossa infraestrutura. O que nós, do Devir Social, podemos fazer em relação a isso?

A resposta parece-nos um tanto simples: nada. Já estamos utilizando modernos conceitos de criptografia para assegurar a segurança e sigilo do cidadão.  Poderíamos, ainda, aplicar conceitos mais modernos ainda, mas não importa quão moderno forem estes conceitos, no final sobrará à relação entre seres humanos: o empresário e o candidato. Sobre isto nós não temos, nem nunca teremos o controle. Percebam, neste ponto, que é possível a existência de uma força que pode ou não impedir que o candidato aceite a proposta do empresário, e chamaremos agora esta força de moral.

Chegamos a um interessante ponto para estudar o funcionamento da moral, principalmente neste contexto adotado pelo Devir Social. Como estabelecer um sistema de moral e como saber se ele funciona ou deixa de funcionar? Para responder a esta questão, vamos pensar um pouco mais no cenário do empresário e candidato descrito anteriormente, e adicionaremos a suposição de que o Devir Social esteja funcionando adequadamente, causando todas as mudanças que ele se propõe a fazer e beneficiando a vida do cidadão comum.

O candidato poderá recusar a proposta do empresário, com o efeito de perder sua vaga. Porém, vejamos que o malefício causado pela perca da vaga é menor que o malefício causado por ceder às pressões do empresário e mostrar o perfil, pois com isto o projeto do Devir Social, pouco a pouco, começa se corroer. Contudo, se esta for uma prática de todos os empresários, o candidato não conseguirá emprego em canto nenhum. Neste ponto, os malefícios por não ceder à pressão dos empresários serão maiores que o benefício trazido pelo Devir Social. Passaremos agora para o cenário do empresário para ter uma visão completa da situação.

O empresário que se passa para pedir ao seu candidato que ele revele o seu perfil no Devir Social provavelmente tem interesse em gente corrupta no seu time, ou que ao menos nunca tenha feito nada contra sua empresa e aliados. Porém, se todos os seus candidatos recusarem-se a mostrar seus perfis no Devir Social, ele ficará sem opção e terá que contratar um funcionário baseando-se nos critérios normais de contratação. Além disto, cada vez que ele faz a proposta, ele corre o risco de ser pego e possivelmente receber represaria, seja pelo público ou mesmo da justiça.

Vejamos, portanto, que este é um processo de negociação que não envolve apenas um empresário ou um candidato, mas sim um conjunto de empresários e candidatos. É neste contexto que a moral entra como uma força atuante e reguladora das relações humanas, afinal, ela é o comportamento que os atuantes de um sistema esperam que traga mais benefícios para si, de acordo com o que ele pode perceber de como seus semelhantes e outras grupos sociais atuam e do que funciona ou não neste sistema.

No nosso contexto, existem três grupos: o Devir, que beneficia aos candidatos, é neutro aos empresários honestos, os candidatos, que podem ter uma pequena vantagem ao degradar o Devir para os empresários que não são honestos, mas também tem vantagem do Devir, e os empresários, que acabam sendo vez ou outra prejudicados pelo Devir se forem desonestos e se beneficiariam caso o Devir não existisse. A moral aqui, portanto, é a força que regula o qual atitude um indivíduo enfrentará diante de um dilema, e é calibrada de acordo com os benefícios e malefícios que ele espera para si e para aqueles que atuam no mesmo sistema que ele.

Através deste conceito, é possível que façamos uma relação entre os benefícios trazidos pelo Devir Social, os benefícios trazidos pelos empresários desonestos, e o discurso moral dos candidatos, para saber como anda a calibragem da moral nesta dinâmica social. De antemão, torna-se claro que um comportamento que a princípio vai contra a moral das pessoas, como roubar, passa a ser considerado dentro da moral delas, caso quem roube não saia no prejuízo, de alguma forma, mesmo que sendo também roubado. É isto o que explica um grupo de ladrões serem honestos entre si, mas desonestos com os diferentes.

O funcionamento da moral está diretamente ligado ao que ela acredita funcionar para a sociedade, e quando este algo deixa de funcionar, a moral se transforma de modo a se adequar a nova realidade social. Isto nos leva a perceber o quanto importante é a inovação para a manutenção da moral: quanto melhor um sistema funcionar, mais as pessoas vão ter um senso moral mais humanizado. Percebemos, também, que é importante que as pessoas que se preocupam com a lei avançarem mais em suas tecnologias que as pessoas interessadas na transgressão da lei, pois isto garantirá uma calibragem humanizada da moral. Aqui, inclusive, podemos inserir o conceito do espaço vazio.

Começamos agora a entender a formação de grupos políticos, no sentindo de organização pura da coisa, quando a sociedade começa a perder o ser humano como seu principal objetivo de funcionamento. Por exemplo: em uma sociedade em que a figura do ser humano é valorizada, matar é errado não importa a quem. Porém, quando o ser humano começa a ser desvalorizado, torna-se normal matar certo grupo de humanos, como bandidos rivais ou criminosos. Neste caso, existe algo que está sendo mais valorizado que o ser humano: não se acredita que o ser humano funcione, mas sim o sistema a qual ele faz parte. Outro excelente exemplo é o estado de um país. No seu estado normal, matar é errado, mas em estado de guerra, matar o inimigo torna-se comum.

É interessante aqui esclarecer que o Devir Social pretende ser um movimento humanista. Nossa maior valorização é o ser humano, e acreditamos que a morte nunca é a resposta, mas sim a inovação tecnológica, o testemunho, o aprendizado, a recuperação. Esperamos um dia avançar nossa sociedade ao ponto em que ela consiga fazer bom uso da natureza também, ao ponto de perceber o que é vivo como seu semelhante. Mas, o que podemos fazer agora é projetar apenas o que acreditamos ser o próximo passo. Com isto encerramos a moral, que é um comportamento de calibragem individual, e passamos para a ética. O que significará a ética para o Devir Social?

O Devir Social entendeu a ética como a moral de uma empresa. Ora, se a moral é algo individual, e uma empresa é um conjunto de indivíduos, cada indivíduo tem sua própria moral. Mas seguindo o raciocínio anterior, existe um comportamento médio que se torna benéfica para aquela empresa, seja para a sua credibilidade, eficiência de atuação, organização interna. Este comportamento nós chamaremos de ética. Como anteriormente estabelecemos, o governo é a empresa responsável pelo processo de continuidade, neste sentido, a ética cidadã existe. Cada empresa também pode ter seu próprio conjunto ético, aonde todos possam compreender seus princípios para fazer a atuação daquela empresa bem fundamentada e harmonizar seu convívio social.

A ética não é o direito. O direito é uma instituição humana com poderes de atuação. Uma empresa pode ter seu próprio direito interno, o conjunto de regras que contempla deveres e punições para cada funcionário. Mas isto não é a ética. A ética tem função de aconselhar, direcionar, guiar. O direito tem função de fazer funcionar o presente. Já a ética, o futuro. Isto pode ser percebido através de uma analogia com a moral: uma pessoa que faz um ato que para ela é imoral pode ou não ser prejudicada, mas no fundo ela sabe aquilo está correndo perigo, pois ela pode sofrer as consequências mesmo sem saber quando, seja através da justiça ou de outras formas, como um conjugue que traí seu parceiro.

O Devir Social, neste sentido, pretenderá construir sua própria ética de funcionamento para esclarecer a todos como acreditamos ser o melhor modo de funcionar para alcançarmos com mais eficiência e segurança nosso objetivo. A quem quiser agir diferente, é livre para tanto, mas será responsável pelas consequências caso elas ocorram, no âmbito judicial, por exemplo. Se a pessoa seguir a nossa ética, provavelmente ela não sofrerá consequências. Em um caso ou outro, sempre estaremos interessados em acompanhar nossos usuários, para apoiá-los e aprender com eles. A construção da ética do Devir Social se fará através do seu funcionamento, portanto, um dia isto entrará como postagem no nosso blog. Com isto, encerramos este tema. Um abraço a todos e até a próxima postagem.

Postagem no facebook:
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