quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Um olhar do Devir Social sobre o Capitalismo

Introdução:
Há pessoas que pensam que o capitalismo se refere a liberdade individual das pessoas fazerem seus negócios e viver sem que outras pessoas a regulem. Porém, para o Devir Social, o capitalismo não tem haver com isto, sendo uma coisa muito mais profunda que as liberdades individuais que todo indivíduo tem direito. Este texto foi escrito para elaborar melhor esta ideia. No entanto, para falar sobre o capitalismo, é preciso falar um pouco sobre os valores psicológicos dos indivíduos que fazem parte do desenvolvimento do capital. Portanto, iniciaremos com uma sessão chamada “Valores”. Depois disso expandiremos para a implementação, manutenção e expansão do capitalismo e seus efeitos sobre os estados.

Valores:
Cada ação individual colabora ou não para a concentração de capital. Portanto, falar de capitalismo sem falar dos valores que compõe uma sociedade seria uma explicação incompleta. Afinal, sem os valores adequados, o capital simplesmente não seria capaz de se concentrar. Obviamente, estes valores são a forma como a média das pessoas se comportam, há aquelas que saem desta média de comportamento.

O primeiro valor do capitalismo é a noção do próprio desenvolvimento, que é o pensamento de que a melhor coisa que cada pessoa pode fazer para o mundo é desenvolver a si própria. A segunda noção do capitalismo é a da vida justificada pelo prazer imediato. Afinal, o capitalismo não dá nenhuma garantia de futuro por si só, então é bom que se aproveite tudo o que o capital pode oferecer agora. Como consequência destes dois valores, gera-se uma noção de que tudo pode ser comprado, e isto impede a geração de qualquer vínculo social mais forte que o próprio capital. O terceiro valor é o do uso da violência para proteger o capital. Este terceiro valor será necessário para entender o que mantém o capitalismo concentrado.

Implementação:
Imaginemos uma massa de pessoas em que nelas está instalado os três valores anteriormente citados. Para a implementação do capitalismo, cada pessoa irá buscar desenvolver a si própria para que possa desenvolver capital e ter acesso ao prazer. No entanto, logo será percebido que o desenvolvimento em grupo será mais eficiente que o desenvolvimento individual. Pouco a pouco, percebemos grandes grupos de capital surgindo que controlam o modo como o ser humano tem acesso ao prazer. O que o capitalismo fez afinal? Captou toda forma de recursos e acumulou em um só lugar, que é o capital. A partir disto é possível enxergar a sociedade em dois grandes grupos de pessoas: aquelas que possuem o capital e aquelas que não possuem.

As que possuem capital são aquelas que conseguiram desenvolver alguma habilidade para manter o capital consigo, por isto estão numa posição de privilégio. As pessoas que não possuem capital, por sua vez, são as pessoas que não conseguiram desenvolver habilidade para manter o capital consigo, e por isso vendem sua força de trabalho para ter acesso aos recursos de geração de prazer. Por um bom tempo o capitalismo fará isto: captará tudo o que houver na sociedade e concentrará em si, para que fique cada vez mais forte. Esta é a fase da manutenção.

Manutenção:
Com o tempo, as pessoas que não tem acesso ao capital irão buscar se desenvolver de outras formas além do capital. Estas formas são vistas como ilegais e frequentemente serão nocivas a própria sociedade. Elas recorrem a isto porque, afinal, elas tem dentro de si o valor do autodesenvolvimento por um lado, mas não tem recursos para se desenvolver por outro. A solução é partir para a violência como forma de desenvolver-se. Em reação a isso, o capitalismo desenvolve um modelo de contenção de violência, que são as polícias e o governo.

Assim é visto o governo para o capitalismo: apenas uma forma de estabilizar a sociedade e impedir que a violência se organize de modo a desestabilizar a geração de lucro para o capital. O governo se torna uma terceira classe de pessoas, que são aquelas que negociam entre os que detém o capital e as forças que se formam através do descontentamento social, seja estas forças criminosas ou não. Se as forças são criminosas, é fácil para o capitalismo lidar com elas. Afinal, o crime em si é uma força socialmente insustentável, não precisando, portanto, de nenhuma manobra específica para livrar-se dele além de sua desestruturação.

No entanto, o capital precisa utilizar algumas técnicas especificas para lidar com as organizações sociais que não são criminosas. Uma delas é a cooptação da liderança, isto é possível quanto o próprio grupo em si é unido pelos valores do capital, e sendo o capital tão grande, é mais fácil comprar o líder e deixar o resto do grupo sem ação do que lidar com o grupo inteiro. No entanto, se o grupo não tem em si os valores do capitalismo, esta técnica é inviabilizada, e o capitalismo precisa lançar mão do seu terceiro valor, que é o uso da violência, seja ele físico ou moral, em relação à aquele grupo, para assim inviabilizar sua continuidade e o capital continuar protegido.

Expansão:
O cenário de manutenção foi alcançado. Um grupo fixo que possui o capital, que é transmitido através da hereditariedade, outro grupo que precisa lutar para manter-se no poder através da contenção dos descontentes, e os que não possuem capital e vivendo uma vida que com uma grande chance os leva para a busca de outras formas de desenvolvimento que não os saudáveis. Ora, muitos que defendem a continuação do capitalismo ou defendem que não pode ser desse jeito, ou defende que esta é a melhor maneira, pois com o tempo a riqueza será tanta que alcançará inclusive os descontentes. Isto seria verdade se não fosse a necessidade da expansão do capitalismo.

Percebam: para quem tem tudo, o prazer se torna o próprio desenvolvimento. Quantos milionários não utilizam o dinheiro apenas como uma pontuação, como algo que traz status perante aos seus pares? Isto implica que, aquele que tem capital, desejará ter mais capital para continuar seu próprio desenvolvimento. Para isto, ele irá mirar em outras populações, para lá instalar o capital e controlar lá também. Obviamente, aquela próxima população poderá ter seu próprio sistema de capital estabelecido ou haverá outros capitais interessados em expandir-se para aquele local, e isto irá gerar um processo de competição.

Será exatamente este processo de competição que impedirá a riqueza possa escoar para a base do capital, para que ela consiga ter mais condições de se desenvolver. Afinal, a competição é uma coisa que retorna resultados a curto prazo, enquanto que o desenvolvimento humano retorna resultados a longo prazo. Portanto, para vencer uma competição, o capital precisará garantir que tudo aconteça de maneira eficiente, mesmo que implique em sofrimento para a sua base, para assim atingir seus objetivos. Em última instância, podemos recorrer a um ditado que se aplica bem à natureza selvagem da competição: aquilo que não cresce, morre. Para o capital, crescer é uma condição de vida.

Isto claramente implica no empobrecimento de um país. Afinal, enquanto os grandes capitalistas do país estão buscando ao máximo tornar sua população mais eficiente, muitas vezes aumentando a jornada de trabalho delas e sem recompensá-las adequadamente para ter uma maior quantidade de capital em si, a população fica estressada e sem condições de se desenvolver de outras formas, além da violência. Sem este desenvolvimento populacional, esta população fica resuma a técnicas que geram prazer a curto prazo, mas que são nocivas a saúde, a cultura do consumo retrata bem pelos “fast-foods”.

Considerações finais:
Através deste texto vemos que o capitalismo é uma consequência direta dos três valores citados anteriormente. Isto significa que enquanto uma população viver sobre estes valores, o capitalismo será uma consequência natural. Ora, o Devir Social considera que o problema do capitalismo é um sistema de valoração pobre, como consequência uma cultura de consumo por um lado, de violência por outro. Obviamente, parte de seus valores são verdadeiros, mas ainda incompletos. É claro que sistemas mais sofisticados possam ser desenvolvidos com novos valores, e o Devir Social busca isto através do aprimoramento dos métodos democráticos. No entanto, uma vez alcançados, isto não mais será capitalismo.

PS: quando foi escrito o texto “um olhar do Devir Social sobre o comunismo”, falou-se rapidamente sobre a tendência espiritual no comunismo, algo que não foi feito aqui. Portanto, será bom incluí-lo, e isto será feito agora.

Há uma frase muito famosa que diz “A religião é o ópio do povo”, e isto é geralmente verdadeiro no capitalismo. No entanto, isto acontece devido a própria mecânica descrito durante o texto, afinal, grande parte da população está preocupada demais com a própria sobrevivência de modo que não consegue estabilidade necessária para buscar verdadeiramente a Deus. Isto a torna suscetível à visões espirituais que apelem aos sentidos e ao natural. Percebendo isto, muitos líderes religiosos transformam seus ministérios em estruturas que apelam à valores que vão muitas vezes contra o que sua própria religião diz, mas visando a maior retenção do público.

A religião, neste ponto, ao invés de dar a oportunidade para o autoconhecimento e ao conhecimento dos valores divinos, afasta-se destes valores, convencendo à aqueles que a seguem que eles já estão conectados ao divino. O povo, neste momento, se entretém com os métodos naturais desenvolvidos pelos líderes religiosos enquanto perdem aquilo que verdadeiramente deveria nascer neles através do contato com o divino. No entanto, é preciso deixar claro que isto não algo determinístico, de modo a espiritualidade pode surgir mesmo em ambientes hostis ao seu surgimento, seja no capitalismo ou no comunismo

Texto sobre o comunismo:
http://devirsocial.blogspot.com.br/2017/12/um-olhar-do-devir-social-sobre-o_14.html

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