Introdução:
Quando se busca alcançar um ideal
sobre como as instituições de uma sociedade devem ser, sempre ocorrem
divergências. Estas divergências geralmente têm haver com o modo que se deve tratar um indivíduo e quais ferramentas e quais autoridades serão responsáveis por isto.
Há uns que defendem a liberdade, outros que defendem a igualdade.
Como, entretanto, desenvolver uma visão capaz de comportar os diferentes
olhares e atuações dos organismos sociais da nossa sociedade? Para isto
usaremos a linguagem dos organismos como uma forma de analisar as
principais autoridades da nossa sociedade atual e assim extrair os seus
princípios de funcionamento e relacioná-las com o estado, a linguagem
das linguagens.
Através da observação empírica do autor
deste texto, serão classificadas em três as principais autoridades da
nossa sociedade: a política, a científica e a religiosa. A autoridade
política é aquela que governa a sociedade e possui o monopólio da violência, utilizando-se da
linguagem do estado, que é uma construção histórica. A autoridade
científica é aquela que desenvolve as tecnologias e se responsabiliza
pelas construções das estruturas materiais da sociedade, exercendo influência sobre a economia. A autoridade religiosa é aquela
que estabelece as premissas culturais de uma sociedade exercendo, portanto, uma enorme influência sobre a cultura. Este texto trabalhará em cima de um modelo ideal
de sociedade contendo apenas estes três organismos.
Autoridade política:
A
autoridade política é construída através do princípio eleitoreiro. Isto
significa que o que as autoridades políticas fazem, afinal de contas, é
ganhar votos. Na prática, a produção social da autoridade política se
resume a duas: a negociação, quando se fala na manutenção de recursos da
vida, e da promoção dos valores que a maioria das pessoas acredita,
quando falamos da produção social que satisfaz a vida. Estas duas coisas
objetivam que a autoridade política ganhe voto para continuar no poder,
que é quando os indivíduos que estão nesta autoridade conseguem os
recursos para a manutenção da sua própria vida e satisfação pessoal.
Acerca
da produção social da promoção dos valores da maioria, é possível
perceber isto de forma bastante reforçada através da promoção de festas,
quando se trata de públicos cujo principal valor é o consumo natural,
ou através da promoção de debates em torno de ideologias, quando se
trata de públicos cujo principal valor é a produção de verdades
naturais. Através disto se origina o processo de negociação aonde os
grupos interessados por uma consequência específica de uma determinada visão
investe ou não em um político. A linguagem política, por sua
vez, comporta este tipo de ação, uma vez que a democracia permite a
articulação entre grupos para a promoção de seus próprios interesses,
que serão resolvidos através do voto.
Por ideologia, neste texto, entende-se o conjunto de premissas que pode ter origem ou em modelos naturais ou em modelos espirituais, mas cuja comprovação científica ainda não está determinada, seja porque não foi implementada, seja porque possuí características à elementos mutáveis, como a satisfação das pessoas. No entanto, cada ideologia interessa a um grupo em específico, e promovê-las significa modelar a sociedade para que beneficie mais a um que outro. Presumir uma ideologia que beneficie a todos igualmente seria assumir que todos são iguais materialmente e espiritualmente.
Autoridade científica:
A
autoridade científica é construída através do princípio da busca pela
verdade. Isto é feito através do método científico, que é um conjunto de
técnicas que busca testar o quão falsa uma hipótese é. Por quanto mais
testes científicos uma hipótese passa, menor a chance de ela ser falsa.
No entanto, o que se prova é que uma ideia não é falsa, não que ela é
verdadeira. Assim sendo, as autoridades científicas não devem ter o
interesse de sustentar uma verdade, mas sim de promover a busca pela
descoberta, para que o ser humano conheça cada vez melhor a natureza que
está em torno de si. Obviamente, o método científico é um conjunto de
técnicas da natureza, da matéria, podendo, portanto, somente ser aplicada para
assuntos da própria natureza.
A produção social da
autoridade científica é a tecnologia. Através dela, o ser
humano obtém ferramentas mais eficientes para seu próprio desenvolvimento. Isto influencia na manutenção da vida já que algumas questões
só podem ser facilmente resolvidas com as ferramentas adequadas. Por outro lado, a
autoridade científica também é responsável por fomentar nas pessoas o
interesse de descobrir. Afinal, se a ciência se reduzir
simplesmente a desenvolver tecnologias, o conhecimento de base pode
ficar estático e as tecnologias podem parar de evoluir. Portanto, a
autoridade científica encontra satisfação em descobrir hipóteses que avancem na fronteira do conhecimento humano e que não são falseadas pelo método científico,
sendo esta, também, uma produção social da ciência.
Assim
sendo, é preciso que as autoridades científicas valorizem sua própria ética
de funcionamento. Isto porque, sendo ela aquela que valida as verdades científicas, estando ela interessada em outros valores que não sua ética, é possível que verdades não tão científicas sejam divulgadas através dela, o que pode promover crise social à longo prazo. Afinal, é a ciência que valida, para o estado, as tecnologias que podem ser massificadas através do investimento público. O estado também se relaciona com a ciência através do financiamento, pois, sem desenvolvimento tecnológico, a produção da sociedade pode se estagnar.
Autoridade religiosa:
A
autoridade religiosa é construída através das declarações de fé. Sendo
fé premissas espirituais, ou seja, que não tem origem na matéria, é
impossível aplicar o método científico na fé. Além disto, é impossível
obrigar a alguém que siga sua própria fé já que ela precisa vir do
interior do indivíduo. Do contrário, a fé se torna uma ferramenta
social, podendo, portanto, se tornar passível ao uso de técnicas
científicas e políticas. Se isto acontecer, haverá uma desarmonia entre a relação dos organismos
sociais. O que se espera é que a autoridade religiosa promova sua fé,
através da propagação da sua palavra, e que seu exemplo insira naquela
pessoa a mesma certeza interna de que, aquilo que se anuncia, é
verdadeiro.
A linguagem religiosa tem em si os
mecânicos que garante sua própria manutenção da vida, e todos eles se
baseiam no convencimento. Além disto, a produção social da autoridade
religiosa é a adoração, o estado no qual os indivíduos encontram
satisfação e paz interna. Para isto, no entanto, é preciso que os
indivíduos inseridos na linguagem religiosa estejam de acordo com o que
ela diz, o que produz um efeito material nos indivíduos como um todo, impactando na
relação cultural entre os organismos. Desenvolver provas científicas para avaliar se um indivíduo está ou não de acordo com o que ele diz pode ser praticamente impossível. Portanto, o que vale é o testemunho interior de cada um.
Muitas vezes na história a religião se solidificou a tal ponto que dominou a política e ciência. Isto significa que ela desenvolveu ferramentas mecânicas de controle, que fazem com que os indivíduos profiram sua fé não por meio da revelação interna, mas por mecanismos externos que causam medo ou prazer, de modo a obter, através disto, o controle político. No entanto, modernamente, isto não mais se sustenta, uma vez que nosso desenvolvimento tecnológico chegou a tal ponto que controlar mecanicamente um indivíduo se tornou impossível, afinal, atualmente, uma sociedade cujos indivíduos não saibam ler, e, portanto, tenham autonomia, não tem condições de ter um alto nível de produção social quando comparada à outras.
Conclusão:
Na
prática, é impossível separar completamente a influencia que uma destas
autoridades tem sobre a outra. No entanto, entende-se que esta
influência deva ser não-determinística. Isso significa que não existe
nenhuma construção oficial de comunicação ou negociação entre um tipo de
autoridade ou outra, porque uma vez existindo, isto adiciona autoridade
no comportamento de ambas às autoridades, qualquer que forem elas. A
própria história dá diversos exemplos de conflitos que surgiram ao
tentar unir ciência, religião e política, em qualquer a combinação
dois-a-dois. Cada uma destas autoridades tem um papel decisivo para o
equilíbrio da sociedade e seus organismos, portanto, o estado
reconhecê-los e incentivá-los de modo que eles façam bem seu papel e não
permitir a construção de canais oficial entre eles é fundamental para
uma sociedade equilibrada e harmônica.
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