sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Análise das autoridades segundo a linguagem dos organismos

Introdução:
Quando se busca alcançar um ideal sobre como as instituições de uma sociedade devem ser, sempre ocorrem divergências. Estas divergências geralmente têm haver com o modo que se deve tratar um indivíduo e quais ferramentas e quais autoridades serão responsáveis por isto. Há uns que defendem a liberdade, outros que defendem a igualdade. Como, entretanto, desenvolver uma visão capaz de comportar os diferentes olhares e atuações dos organismos sociais da nossa sociedade? Para isto usaremos a linguagem dos organismos como uma forma de analisar as principais autoridades da nossa sociedade atual e assim extrair os seus princípios de funcionamento e relacioná-las com o estado, a linguagem das linguagens.

Através da observação empírica do autor deste texto, serão classificadas em três as principais autoridades da nossa sociedade: a política, a científica e a religiosa. A autoridade política é aquela que governa a sociedade e possui o monopólio da violência, utilizando-se da linguagem do estado, que é uma construção histórica. A autoridade científica é aquela que desenvolve as tecnologias e se responsabiliza pelas construções das estruturas materiais da sociedade, exercendo influência sobre a economia. A autoridade religiosa é aquela que estabelece as premissas culturais de uma sociedade exercendo, portanto, uma enorme influência sobre a cultura. Este texto trabalhará em cima de um modelo ideal de sociedade contendo apenas estes três organismos.

Autoridade política:
A autoridade política é construída através do princípio eleitoreiro. Isto significa que o que as autoridades políticas fazem, afinal de contas, é ganhar votos. Na prática, a produção social da autoridade política se resume a duas: a negociação, quando se fala na manutenção de recursos da vida, e da promoção dos valores que a maioria das pessoas acredita, quando falamos da produção social que satisfaz a vida. Estas duas coisas objetivam que a autoridade política ganhe voto para continuar no poder, que é quando os indivíduos que estão nesta autoridade conseguem os recursos para a manutenção da sua própria vida e satisfação pessoal.

Acerca da produção social da promoção dos valores da maioria, é possível perceber isto de forma bastante reforçada através da promoção de festas, quando se trata de públicos cujo principal valor é o consumo natural, ou através da promoção de debates em torno de ideologias, quando se trata de públicos cujo principal valor é a produção de verdades naturais. Através disto se origina o processo de negociação aonde os grupos interessados por uma consequência específica de uma determinada visão investe ou não em um político. A linguagem política, por sua vez, comporta este tipo de ação, uma vez que a democracia permite a articulação entre grupos para a promoção de seus próprios interesses, que serão resolvidos através do voto.

Por ideologia, neste texto, entende-se o conjunto de premissas que pode ter origem ou em modelos naturais ou em modelos espirituais, mas cuja comprovação científica ainda não está determinada, seja porque não foi implementada, seja porque possuí características à elementos mutáveis, como a satisfação das pessoas. No entanto, cada ideologia interessa a um grupo em específico, e promovê-las significa modelar a sociedade para que beneficie mais a um que outro. Presumir uma ideologia que beneficie a todos igualmente seria assumir que todos são iguais materialmente e espiritualmente.

Autoridade científica:
A autoridade científica é construída através do princípio da busca pela verdade. Isto é feito através do método científico, que é um conjunto de técnicas que busca testar o quão falsa uma hipótese é. Por quanto mais testes científicos uma hipótese passa, menor a chance de ela ser falsa. No entanto, o que se prova é que uma ideia não é falsa, não que ela é verdadeira. Assim sendo, as autoridades científicas não devem ter o interesse de sustentar uma verdade, mas sim de promover a busca pela descoberta, para que o ser humano conheça cada vez melhor a natureza que está em torno de si. Obviamente, o método científico é um conjunto de técnicas da natureza, da matéria, podendo, portanto, somente ser aplicada para assuntos da própria natureza.

A produção social da autoridade científica é a tecnologia. Através dela, o ser humano obtém ferramentas mais eficientes para seu próprio desenvolvimento. Isto influencia na manutenção da vida já que algumas questões só podem ser facilmente resolvidas com as ferramentas adequadas. Por outro lado, a autoridade científica também é responsável por fomentar nas pessoas o interesse de descobrir. Afinal, se a ciência se reduzir simplesmente a desenvolver tecnologias, o conhecimento de base pode ficar estático e as tecnologias podem parar de evoluir. Portanto, a autoridade científica encontra satisfação em descobrir hipóteses que avancem na fronteira do conhecimento humano e que não são falseadas pelo método científico, sendo esta, também, uma produção social da ciência.

Assim sendo, é preciso que as autoridades científicas valorizem sua própria ética de funcionamento. Isto porque, sendo ela aquela que valida as verdades científicas, estando ela interessada em outros valores que não sua ética, é possível que verdades não tão científicas sejam divulgadas através dela, o que pode promover crise social à longo prazo. Afinal, é a ciência que valida, para o estado, as tecnologias que podem ser massificadas através do investimento público. O estado também se relaciona com a ciência através do financiamento, pois, sem desenvolvimento tecnológico, a produção da sociedade pode se estagnar.

Autoridade religiosa:
A autoridade religiosa é construída através das declarações de fé. Sendo fé premissas espirituais, ou seja, que não tem origem na matéria, é impossível aplicar o método científico na fé. Além disto, é impossível obrigar a alguém que siga sua própria fé já que ela precisa vir do interior do indivíduo. Do contrário, a fé se torna uma ferramenta social, podendo, portanto, se tornar passível ao uso de técnicas científicas e políticas. Se isto acontecer, haverá uma desarmonia entre a relação dos organismos sociais. O que se espera é que a autoridade religiosa promova sua fé, através da propagação da sua palavra, e que seu exemplo insira naquela pessoa a mesma certeza interna de que, aquilo que se anuncia, é verdadeiro.

A linguagem religiosa tem em si os mecânicos que garante sua própria manutenção da vida, e todos eles se baseiam no convencimento. Além disto, a produção social da autoridade religiosa é a adoração, o estado no qual os indivíduos encontram satisfação e paz interna. Para isto, no entanto, é preciso que os indivíduos inseridos na linguagem religiosa estejam de acordo com o que ela diz, o que produz um efeito material nos indivíduos como um todo, impactando na relação cultural entre os organismos. Desenvolver provas científicas para avaliar se um indivíduo está ou não de acordo com o que ele diz pode ser praticamente impossível. Portanto, o que vale é o testemunho interior de cada um.

Muitas vezes na história a religião se solidificou a tal ponto que dominou a política e ciência. Isto significa que ela desenvolveu ferramentas mecânicas de controle, que fazem com que os indivíduos profiram sua fé não por meio da revelação interna, mas por mecanismos externos que causam medo ou prazer, de modo a obter, através disto, o controle político. No entanto, modernamente, isto não mais se sustenta, uma vez que nosso desenvolvimento tecnológico chegou a tal ponto que controlar mecanicamente um indivíduo se tornou impossível, afinal, atualmente, uma sociedade cujos indivíduos não saibam ler, e, portanto, tenham autonomia, não tem condições de ter um alto nível de produção social quando comparada à outras.
  
Conclusão:
Na prática, é impossível separar completamente a influencia que uma destas autoridades tem sobre a outra. No entanto, entende-se que esta influência deva ser não-determinística. Isso significa que não existe nenhuma construção oficial de comunicação ou negociação entre um tipo de autoridade ou outra, porque uma vez existindo, isto adiciona autoridade no comportamento de ambas às autoridades, qualquer que forem elas. A própria história dá diversos exemplos de conflitos que surgiram ao tentar unir ciência, religião e política, em qualquer a combinação dois-a-dois. Cada uma destas autoridades tem um papel decisivo para o equilíbrio da sociedade e seus organismos, portanto, o estado reconhecê-los e incentivá-los de modo que eles façam bem seu papel e não permitir a construção de canais oficial entre eles é fundamental para uma sociedade equilibrada e harmônica.

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