sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Linguagem dos organismos sociais

Introdução:
Esta construção nasceu através da observação dos grupos sociais e de como eles se consolidam. Houve a percepção que a “linguagem” é o principal meio pelo qual o grupo se torna coeso, mas para que haja uma linguagem, é preciso uma “autoridade” que a exerça para que haja uma “produção social”. Com a produção social, esse organismo se relaciona com a sociedade, obtendo seu sustendo e fornecendo sua produção à outros organismos, de modo que os membros da sociedade consigam se especializar para obter maior produtividade de um modo geral.

Assim sendo, houve o interesse de estudar mais precisamente o que significa “linguagem”, “autoridade” e “produção social”, de modo que, no final da análise, é possível perceber que estes elementos são suficientes para estruturar os organismos sociais e determinar suas características. Assim, será possível compreender sua função e delimitar com mais precisão o que é válido ou não na sua atuação por meio de seus indivíduos. O objetivo deste texto é, portanto, diminuir a confusão de quais operações efetuadas pelos organismos são ou não coerentes com sua construção e validadas pelo o que futuramente chamaremos de “linguagem das linguagens”.

Linguagem:
A linguagem é o instrumento de impessoalidade que os indivíduos utilizam para que um determinado comportamento possa ser propagado com eficácia e precisão. Afinal, um comportamento originado por um indivíduo, ao ser passado para outro, acaba recebendo imprecisões. Este outro, ao passar para o próximo, pode aumentar ainda mais a imprecisão de modo que, no final, o comportamento se altere tanto que o indivíduo o iniciou não o reconheça. Portanto, é a linguagem o elemento que mantém o grupo coeso e coerente, pois é através dela que também os comandos são dados pela autoridade para o corpo do organismo, para que ele se mobilize como necessário para atingir a produção social desejada.

A linguagem pode ser dividida em duas partes: a ética, que pode ser comparada a gramática, e a simbólica, que pode ser comparada ao dicionário. A ética é o conjunto de comportamentos que aquela linguagem consegue reconhecer. Uma vez reconhecida, a linguagem consegue determinar, através de suas regras, se aquele comportamento é aprovado ou não. Quando um comportamento novo é efetuado pelo organismo, a linguagem trata de observá-lo em relação a sua produção social para poder reconhecê-lo como aprovável, caso ele contribua para melhorar a produção social, ou reprovável, caso ele atrapalhe a produção social. Deste modo, a ética se assemelha bastante a gramática, pois ela diz como o organismo deve se comportar para que sua linguagem atinja seu objetivo.

A simbólica é a parte da linguagem responsável por comunicar aos integrantes sua identidade e seu modo de produzir dentro daquele organismo. Isto porque um organismo pode ser bastante complexo, contendo diversas especializações. É a linguagem simbólica que determina a responsabilidade de cada especialização para a produção social como um todo do organismo, de modo que cada integrante consiga reconhecer a necessidade da outra parte, de modo a aceitar a divisão de recursos com ele, embora só saiba, na prática, produzir aquilo que ele é responsável. Ou seja: enquanto a ética é uma regra geral sobre qual todo o organismo é submetido, sendo exercitada, o símbolo é utilizado para gerar consciência de unidade no organismo, sendo estático.

Autoridade:
A autoridade de um organismo social são os indivíduos responsável pela produção social daquele organismo. Esta autoridade é organizada através de hierarquia, aonde quanto mais ao topo, maior a responsabilidade da construção simbólica e ética da linguagem, enquanto que quanto mais à base, maior a responsabilidade pela construção mecânica da produção social. Sobre uma interpretação geral todos podem ser considerados autoridades, já que mesmo a base é sobre sua produção e precisa respeitar o comando de seus superiores. O topo é autoridade sobre outras autoridades e, embora não receba ordem, precisa respeitar a realidade para o bom funcionamento do organismo. Existem várias formas de mecanismos de governo como reinado, democracia, meritocracia, etc.

Toda autoridade tem o compromisso com sua produção e precisa receber recursos para sua própria manutenção. Assim sendo, a própria linguagem costuma ter mecanismos de distribuição de recursos, de punição, de recompensa e de promoção, para aqueles que mais se comprometem a conhecer, aprimorar e a realizar aquela produção social. A produção social que ela produz é o recurso de outros organismos, assim como os recursos que ela recebe é a produção social de algum outro organismo. Desta forma, idealmente, há negociação entre as autoridades para que seja justa a troca de suas produções de modo que a sociedade consiga viver em harmonia, sem que nenhuma autoridade carregue peso demais sobre si e de modo que todo organismo consiga prosperar, ou seja, seus indivíduos consigam utilizar os recursos adquiridos para desenvolver suas vidas de modo que os satisfaça.

Outro aspecto importante da autoridade diz respeito a sua capacidade de adaptar a linguagem para as variações ambientais que aquele organismo pode sofrer. Já foi escrito neste blog que a própria linguagem passa por um processo de evolução, através da sofisticação de seus símbolos e éticas em relação à produção social. Mas também é preciso levar em consideração que todo ambiente sofre alterações, tanto por fatores ambientais quanto também pela atuação de outros organismos sociais. Desta forma, é preciso haver um equilíbrio entre aquilo que a linguagem é capaz de descrever e aquilo que a autoridade é permitida criar. Do contrário, poderia haver a pretensão de que a linguagem fosse capaz de explicar tudo, mas quanto maior a precisão de uma linguagem, maior a sua complexidade e mais recursos são gastos para que ela seja estabelecida, exercitada e propagada aos demais indivíduos.

Uma autoridade é estabelecida através de princípios. Os princípios estão inseridos na ética da linguagem, e geralmente são os comportamentos mais básicos necessários à validação da produção social pela linguagem das linguagens. É permitido a uma autoridade criar, a medida da liberdade definida por seus superiores e desde que não se contradiga com nenhum princípio. Do contrário, se torna uma atitude antiética, de modo que não é válida, podendo trazer prejuízo ao organismo social como um todo, como a retaliação por parte dos outros organismos sociais ou a desorganização do equilíbrio da própria sociedade. Quanto maior o grau de autoridade, maior deve ser a responsabilidade para com os princípios, pois maior também é a liberdade de criação.

Produção social:
Todo organismo social é formado por indivíduos unidos por uma linguagem com o objetivo de obter alguma produção social. Esse organismo social pode ser composto por um indivíduo ou milhares. Cada indivíduo é um ser humano, portanto, tem necessidades a serem cumpridas, como por exemplo, a manutenção da sua vida. Em especial, existe uma necessidade a ser alcançada, que é a satisfação de sua existência. Portanto, toda produção social está relacionada ou com a manutenção da vida ou com a satisfação da existência humana. Deste modo, todo organismo social deve ser capaz de obter uma produção social, para que com ela, ele possa estabelecer relações com os demais organismos a fim de obter os recursos necessários para suprir a si próprio.

Um exemplo básico pra entender isso é se pensar um organismo que é especializado em produzir manutenção da vida, outro especializado em produzir satisfação de existência. Um sem a produção social do outro não existiria. De igual maneira acontece na sociedade, porém, com um nível de complexidade muito maior. As técnicas e ferramentas utilizadas pelos organismos para que eles produzam fazem parte do dicionário, assim a própria linguagem instrui no processo de produção. A cada nova tecnologia descoberta pela sociedade possibilita o processo de renovação dos organismos, através da modernização da linguagem, que nada mais é que atualizar a linguagem para dar suporte as novas tecnologias e, assim, haver um ganho de produtividade. No entanto, é preciso também levar em consideração as questões éticas da linguagem, uma vez que novas tecnologias implicam em novas relações, que podem não ser saudáveis para o corpo do organismo como um todo.

organismos sociais e a moral:
Este modelo de análise dos organismos sociais permite uma interpretação própria acerca do que é moral, que se segue: moral é a relação entre aquilo que uma autoridade anuncia e sua produção social. Isto significa que, se alguma autoridade der algum tipo de ordem ou de informação e sua produção social de algum modo indica que ele tem verdade naquilo que ele diz, então ele tem moral no seu anuncio. Se, por outro lado, sua produção social demonstra que aquilo que ele diz não é verdadeiro, então ele não tem moral. Pode ainda ser o caso de algum anuncio ser isento de moral, uma vez que não seja possível estabelecer ligação entre a produção social e o anuncio. No entanto, é possível assumir que tudo que um indivíduo fala tem como objetivo transformar alguma coisa, e se aquele indivíduo deseja transformar através do que ele diz, é porque ele tem alguma fonte de informação que o indica que aquilo é possível. Portanto, toda comunicação deve ser passível de análise moral.

O estado e a linguagem das linguagens:
Diante da complexidade dos organismos sociais, é preciso organizá-los em torno de seu território geográfico de modo que não ocorram abusos e nem exploração insustentável dos recursos naturais daquele território. Afinal, havendo demais abusos de um organismo em relação aos demais, pode ocorrer revoluções. Já se houver exploração demais pode haver falência daquele território. Portanto, com o objetivo de estabelecer uma relação harmônica entre os vários organismos, é comum observar, através de diversos processos históricos, o surgimento daquilo que chamamos de estado, cuja linguagem é chamada de “a linguagem das linguagens”.

Este nome é dado porque o estado contém em si os mecanismos para estimular ou desestimular qualquer outro organismo dentro do seu território. Não somente isto, como também tem o potencial de incentivar a criação de novos organismos mediante as necessidades futuras. Assim, é um organismo que se relaciona com os demais, calibrando-os para o bem comum da sociedade através dos dispositivos da sua linguagem. Isto significa, também, que a produção social do estado é regular a produção social dos outros organismos sociais. No estado representativo democrático, todo cidadão é uma autoridade cuja produção social básica é o direito de voto. Através das eleições, autoridades representativas são escolhidas e assim a estrutura hierárquica é construída.

No entanto, através disto, é possível perceber que um mesmo indivíduo pode fazer parte de vários organismos sociais. Ou seja: ele tem a capacidade de múltipla produção social. Parte do seu dia, por exemplo, ele pode se dedicar a produção social de manutenção da vida, outra parte do seu tempo ele pode buscar colaborar com a produção do seu estado. Nos fins de semana, ele pode satisfazer-se, consumindo a produção social que satisfaz a vida. Assim, este texto entende que todo indivíduo, numa visão moderna de sociedade, possui várias responsabilidades. Quanto maior for sua responsabilidade para determinado a gente social, espera-se que menor será sua responsabilidade para os demais organismos. Porém, de algum modo, é possível pensar que cada indivíduo se relaciona com todos os organismos sociais, nem que seja através da sua relação com o estado.

Um questionamento que surge é o seguinte: existe alguma produção social que não faz parte da linguagem das linguagens. Se sim, como ela existe? Afinal, se ela for muito benéfica à sociedade, é natural que o estado buscará estabelecer uma relação com ela. Se ela for maléfica, naturalmente, o estado irá combatê-la. Se, porém, o estado mantém alguma produção social, mas esta produção social em nada contribui para sociedade, o natural é que o estado pare de mandar recursos para tal produção, de modo que ela acabe morrendo. No entanto, se aquela produção social for importante para o estado, ou seja, para manter o equilíbrio entre todos os demais organismos, mas o estado para de nutri-la, então todos saem prejudicados.

Neste último caso se fundamenta a importância do estudo histórico dos organismos sociais, uma vez que é possível que haja organismos que sejam importantes para manter o equilíbrio da sociedade, mas que, por si mesmos, não conseguem existir. O estudo da história destes organismos é necessário porque uma população que não entende o porquê de determinada instituição naturalmente irá desejar que ela seja descontinuada. No entanto, sua descontinuidade representa um retrocesso social, uma vez que existiu um fato que motivou sua criação. Por isto a importância de ter uma linguagem das linguagens, que contenha em si também os aspectos históricos, e que isto seja amplamente conhecida por todos os cidadãos, que, afinal, são as autoridades do estado.

A linguagem das linguagens e a corrupção:
Para esta abordagem de organismos sociais, corrupção é toda linguagem de linguagens que não é o estado. Ou seja: todo organismo cuja produção social é beneficiar ou prejudicar outros organismos sociais e que não se submete a linguagem do estado é um organismo corrupto. Isto porque ele esta exercendo a mesma função que o estado, no entanto, sem a permissão clara dos demais organismos. Isto implica que um determinado organismo pode contratar os serviços desse organismo corrupto para beneficiar a si próprio em detrimento de vários outros organismos, que se prejudicam e não sabem o porquê. Isto claramente leva a cenário caótico e selvagem, já que os organismos começam a desenvolver a desconfiança uns pelos outros, começando a preocuparem-se mais com manter a segurança de suas produções do que em produzir propriamente aquilo que são responsáveis.

Ainda, devido ao clima de desconfiança, o estado começa a perder sua credibilidade e mesmo sua própria produção. Este enfraquecimento do estado implica em uma menor capacidade de sua produção social, seja articulando, punindo ou beneficiando os demais organismos, mediante ao necessário para o bom desenvolvimento de todos os indivíduos daquele território. Isto gera um clima de desconfiança e desunião, e logo as pessoas começam a entrar num estado anárquico, pois a linguagem das linguagens não é mais capaz de uni-las em torno de seu território. Em outras palavras, o estado perde sua moral. Com a moral do estado em baixa, com a produção social dos organismos menos eficazes, é natural que o clima de insatisfação comece a se instalar. Se nada for feito, pressupõe-se que esta sociedade entrará em crise, passando por grandes revoltas e possivelmente guerras civis.

Conclusão:
Através deste material, espera-se que fique claro a importância de entender melhor como é importante que todo indivíduo tenha consciência da produção social de todos os organismos da sua sociedade. Além disto, aqui foram lançadas as bases teóricas para futuramente analisar algumas autoridades de modo que pode ser muito útil para a resolução de certos conflitos éticos da nossa sociedade atualmente. Através da organização conceitual das autoridades, suas linguagens e produções, a saber, a política, a religiosa e a científica, espera-se que haja muito mais harmonia na construção dos organismos sociais da sociedade, de modo a promover uma melhor satisfação a todos que nela estão inseridos.

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